segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Paris, 1972

Paris, o amor se esparrama por cada trecho das suas ruas. Amor é o que escorre dos lábios das putas e é o que abre suas pernas. Amor é a sífilis, são os mendigos mais orgulhosos que se podem existir, donos de todas as ruas, coroados com as estrelas. Me sentia abandonada por Paris, meu coração sóbrio de qualquer romantismo queria se embriagar com qualquer vinho, de incertezas sobre o dia que viria a amanhecer.
Entrei num bar, próximo da torre eiffel, meus olhos absorvendo cada particula das luzes, elas que me engoliam aos poucos. Sozinha, ria absurdamente perdida, como se Paris fosse inédita, como se nunca tivesse andado antes por aquelas ruas. Foi quando ele apareceu, talvez uns 48 anos, sempre tive sorte em advinhar com precisão as idades. Tinha os olhos puxados, o cabelo se escondia com rebeldia dentro do chapéu, os olhos se fixaram logo em minhas pernas, as cruzei para ter certeza. Sorriu como se fosse conhecida, talvez eu fosse, não existe destino. Existem as linhas mal traçadas, e em alguma delas, eu deveria ter cruzado mais do que as pernas com ele. Sentou-se próximo, puxou assunto, "você viu como ela está iluminada hoje? - Sempre está, mas só hoje consegui admirá-la - Dá para vê-la nos seus olhos, fica bem mais iluminada." Abusado, pensei, mas estamos em Paris, natural que todos queiram transar, todos querem se amar. No fundo, até acredito que todos querem ser felizes, até ele, Paris nos dá a chance e a opção da ilusão. Falou sobre a imundice da cidade "Paris tão bela, mas tão podre. Parece uma puta que conheci, Germaine, lindíssima. Mas quando abria a boca, o encanto se perdia. Exatamente igual". Estranhamente, já ouvi falar dessa Germaine, mas fiquei muda,devia ser impressão minha, tantas putas em Paris. "-A estadia no começo foi tão complicada, poucos souls, uma máquina de escrever. Fui alimentado por Russos, tinham tanta piedade de mim que as putas não me cobravam"
Conversamos sobre tudo, sobre minha repentina admiração pela cidade, da minha sobriedade em relação ao amor, e mais garrafas de vinho, céus, minhas pernas tremiam, eu quase dizia isso a ele. "Qual seu nome? - Henry, e o seu? -Tânia. - Tânias, ah, seria você a Tânia verdadeira? "
Tânia, Germaine... Não me era estranhos os nomes, será que, eu já as conheci? Ele me olhava com olhos de cão, famintos por qualquer pedaço de carne. O sorriso transbordava um sotaque americanizado, como se o nosso momento fosse algum filme americano promovendo Paris, turisticamente. Mas tinha certeza que esses nomes estavam ligados, como se fossem... PERSONAGENS! Porque não pensei nisso antes?
-Miller?
- O próprio. Agora posso te perguntar?
- Claro
- Posso te comer?
Disse sim, como poderia negar? Semana passada, um argentino me chamou de Maga, fiquei comovida, até lembrar de quem ela era. Encantada, fiquei. Outro escritor, despatriado. Dançamos tango enquanto a vida ria de mim.
Joguei a pedrinha no inferno, mas me conduziram ao Paraíso.

7 comentários:

  1. paris.. *-*
    gostei muito como voce escreve, os detalhes, legal mesmo. bjs

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  2. Vaquice absurdamente linda.

    Tu escreve, e eu assisto. É, tuas mãos fazem filme aos meus olhos, Katrina. Gostei das brincadeiras com os nomes. Com os gestos.

    Um beijo, cara.

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  3. HAHAHAHA, ai, seus textos são sempre "ê Katrina".

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  4. Miller? Maga?
    Ao que parece, Paris continua inspirando escritores e suas vidas cretinas até hoje, né?

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  5. Katrina tendo o seu sonho de ser um puta do Miller sendo realizado... aHuahuaH muito bom!

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  6. Uma das coisas que gosto nos seus textos é esse romantismo ...

    sabe?

    porque por mais que o mundo seja uma merda,e o mundo é uma MERDA! UEHEUEHEUEH

    a gente tem que acreditar na poesia,sempre!sempre!no amor e na poesia das coisas!


    rs

    bjoss

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  7. eu não daria pro Miller, mas eu comeria ele.

    tudo em nome do amor

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