domingo, 27 de junho de 2010

Para ser Nascimento

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Aquele Azul que levou nosso Trem
Derramou Lô na Esquina
e se Transformou nesse Sonho Real
Tudo que podia ser e não foi

(Um Dia)

Quando eu penso em tanta coisa
Que ficou por dizer
Bebo a chuva da Montanha
E sinto o Vento de Maio

(Até um Dia)

Solto a Voz nas Estradas
Antes do Pós
Na frente do Cais
Para ser Nascimento

(Até um Dia Acabar)

domingo, 20 de junho de 2010

Cegonhas na Lata Amarela

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Na lata amarela estavam as cegonhas
Implorando pelas chamas celestes
A procura de um bloco de notas

Elas queriam fazer um desenho
Mostrando o formato de seus bicos
Eles se assemelhavam a cadeiras
Dessas de balanço

Mas o dono da lata esmagou a lata
E as cegonhas morreram
O bloco perdido foi manchado de sangue
A mancha de sangue se assemelhava a um guindaste

E as chamas celestes desceram queimando o que restou.






*Eu e Hugo fizemos poemas começando pelo mesmo primeiro verso. O dele vocês podem ver aqui:
http://fromhellwithlasers.blogspot.com/2010/05/na-lata-amarela-estavam-as-cegonhas.html
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Compro centelhas de inspiração. Interessados, tratar aqui.

domingo, 13 de junho de 2010

As Pessoas Explodem



Vejam que belo
As pessoas estão explodindo
Seus corpos se estraçalhando
Se arrebentando em mil pedaços
O sangue voa e colore o ar
Os ossos se espalham
Assim como a gordura e os órgãos mortos
O chão fica melado, mal dá pra caminhar
Os corpos desfigurados se aglomeram
E as pessoas continuam explodindo
Me pergunto quando será a minha vez
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Marrom Van Dick

Acordei todo errado, o fígado em vez do coração. Tinha todos os dedos, mas me faltava tato com as mulheres... Mesmo assim eu tinha e gozava dos desejos alheios. A cabeça tinha um formato estranho, moldado por anos de violino. As suas medidas de miss e o ódio pela cor do céu quando amanhecia devagar. Feita de gesso, os olhos ruins e óculos bonitos. A minha idade começou a avançar. E eu recuo, nem me arrisco. Absurdo, tão humano quanto carne de porco. Vejo com uma nitidez especial, ela investe devagar a fim de evitar os espinhos... Que no começo fazem apenas riscos rosados, mas logo arranham até o sangue. “O que você quer ouvir hoje, querido?” “Qualquer coisa menos Bach”. “Ok, vou colocar Strawinski”. Pornografia e cultura pop, talento indiscutível. É normal querer morrer de vez em quando. Mas cavalos não sobem escada, não adianta tentar mudar. Caso perdido. Ela diz que é toda minha. Fica fácil fugir por entre os dedos se eu tenho você na palma da mão. Eu disse que você é inconstante como o mar. E você é livre para devorar o verão.

domingo, 6 de junho de 2010

O Abacate na Música Ocidental




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Eu gosto de comer abacate. Prefiro doce. Adoro guacamole, mas um abacate com açúcar é algo fenomenal. É uma pena que a maior parte das lojas de suco não ofereçam abacate. ISSO É UM ABSURDO. O abacate é uma fruta como outra qualquer. Minto; é uma fruta foda. É MELHOR que a maior parte das frutas. Diria que talvez seja a melhor das frutas, mas como não gosto de eleger nada dessa maneira, poderia dizer que está num seleto grupo de frutas de sabor nobre e elevado, assim como a lichia e a jabuticaba. Opiniões podem divergir, mas essas frutas são fodas. São difíceis de barrar. Essa trinca de frutas merecia ser louvada e ovacionada, diariamente. Talvez a maior vantagem do abacate sobre essas outras duas frutas, seja o fato de ser maior. Um abacate tem muito mais massa que apenas uma lichia, ou apenas uma jabuticaba. O que nos leva à vantagem musical do abacate.

O abacate oferece muito mais possibilidades acústicas que as outras duas frutas. Sendo maior, o abacate ressoa mais, pode ser usado como caixa ressonante em peças musicais, principalmente música de câmara, eu diria. Pensemos num quarteto de cordas colocando um abacate, no chão, a uma distância média dos 4 executantes; teremos um som muito mais encorpado e brilhante. As vibrações fisioacústicas do abacate valorizam o som do quarteto como um todo. Podemos usar o abacate em formações maiores, como banda sinfônica, orquestra de metais ou de cordas, e até numa orquestra sinfônica completa. O problema nesse caso é logístico, teríamos que arranjar um grande número de abacates, o que pode tornar a execução de uma peça abacatal (que é o termo certo a se empregar) um tanto complexa, daí minha recomendação para a utilização do abacate apenas para peças de pequeno ou médio porte. Gostaria de acrescentar que o abacate valoriza a voz humana de uma forma magnífica. Sopranos e mezzos terão suas vozes amplificadas de uma maneira inacreditável. Experimentem. Peguem um abacate, gritem na direção do abacate, e sintam um poder vocal nunca antes imaginado. Só não abusem do abacate.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quase Sério Demais

Ultimamente fico sozinho muito tempo. Creio que todo tipo de desprezo consolida minha personalidade como alicerces. A doença que me adora e que vai me enchendo os pulmões de poeira e nos meus últimos dias cristaliza meus olhos e saliva. Lembra-se da saudade que você tinha? Nada como um dia após outros dias. Me deixo ser seduzido lentamente. É disso que retiro uma dor inaudita. Considere somente meu lado negativo, aliás, associe toda a miséria e a sujeira ao meu nome. Somente um imundo me aceitaria sendo um imundo também. Um tipo de milagre ambulante... Não te cura, mas faz bem. Criadora de ilusões, capaz de me enterrar em seu mundo, se eu não tivesse tanto cuidado. Mas com uma flor imensa... Deu sossego aos meus ossos... Mesmo assim, ameaça me trocar por alguém sem céu... Um espaço escuro e sem estrelas.


Frase Laranja da Sexta Feira:
"Se você não conseguir fazer com que as palavras trepem, não as masturbe "
Henry Miller

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O coração de sábado à noite, três

Ressaca.

Há um bom tempo que eu não bebia, e há um bom tempo que eu não tinha tempo para me recuperar da maldita, estava em pé, acordado, fumando um cigarro atrás do outro e tomando um café atrás do outro há mais tempo do que eu posso me lembrar, um, dois, três dias, por aí você tira o quanto eu me envolvi naquele caso que eu nem prestei atenção, meu estômago estava embrulhado, já havia perdido três pessoas só naquela semana porque minha mente estava num retrocesso de rapidez e lentidão muito confuso para que eu me atesse a qualquer fato, mas como sempre eu comeria a bunda dos filhos da puta no final, uma vez que nada me escapa, não sou esperto não sou genial nem tenho a língua afiada sou apenas um desgraçado preguiçoso que de vez em quando inventa de ter uns ataques de teimosia, principalmente quando casos que nem esses me emputeciam terrivelmente

Terminei de rasgar a artéria carótida daquele segurança com a minha faca velha, daí você tira a força que eu tenho que fazer e eu sempre me pergunto porque eu não compro uma faca nova, seria crueldade minha ou apenas avareza, uma vez que, no final das contas, é uma bela faca, cabo de prata e detalhes de ouro

Agora só uma porta que me separava do restaurante chique no final de semana, das garrafas de Jackie Daniels, de uma mão feminina cheia de compridas unhas vermelhas me tocando uma punheta por debaixo da mesa. Uma porta e eu seria um gringo. Espero que eu não precise encarar mais nenhum filho da mãe, minhas balas acabaram e ainda que com uma faca eu ganhe em discrição, encarar gorilas com uma peça de uma loja de antiguidades com certeza seria uma idéia estúpida

Portanto, me ajoelhei e, como nos áreuos tempos púberes em que olhava a empregada tomando banho, olhei pela fechadura e ri comigo mesmo, antes de prestar atenção e ver a tal garota desaparecida de cabelos descoloridos e platinados, com implantes de silicone em todos os lugares possíveis para se colocar, consegui lembrar dos traços faciais que ainda restavam porque olhei uma cacetada de fotos dela por longas horas seguidas, e com certeza ela não conseguiria mudar tanto na faca se não estivesse foragida, afinal, esses processos de recofinguração total não são brincadeira, não é mesmo, ela mal conseguiria entrar numa dessas clínicas pedindo mundos e fundos sem tornar-se assunto de colunas sociais por no mínimo uma semana

Agora ela estava com roupa de puta, isso sim, e dei risada por minha amiga estranha no ninho, com certeza devem ter dado cocaína o suficiente pra puta cheirar e ter um blecaute nervoso e no dia seguinte acordar achando que não é uma filha de uma longa linhagem de donos do comércio e consequentemente do mundo, mas sim uma das melhores companheiras que alguém poderia querer, me levantei e fiz força na porta, pude notar certa tensão quando ela me viu, pudera, consegui novamente emporcalhar meu terno de trabalho - um dos três unicos, todos iguais - de sangue, miolos e vá saber mais o quê, quem manda ter boa pontaria e atirar de perto

Claro que ela não teve muito tempo de correr, correu apenas até eu acertar um pano umedecido de clorofórmio no rosto dela e pressionar longamente até ela cair desfalecida no chão, meus métodos são sujos, pensei acendendo um cigarro e colocando aquele corpinho leve, pálido e de grandes tetas de gelatina industrial sobre o meu ombro, enquanto andava em direção ao carro

- Porra - Disse uma voz feminina vinda do escuro da minha casa - não consegue ser mais discreto em ação não?
- Não - disse, acendendo luz e vendo minha secretária em roupas de baixo mínimas fumando um baseado cômico de tão grande tendo outros apagados no cinzeiro - Tenho cara de Sherlock Holmes? - Pousei a princesinha burguesa na cama, não tão delicadamente que me faça um homem cortês e não alguém insone, de ressaca e puto da vida - Vai, leva ela pro quarto de hóspedes, e tranca a porta
- Ela pode fugir pela janela...
- Claro, do nono andar, quantos gibis você está lendo ultimamente?

Nunca ria das piadas dela, acho que por isso que ela insistia em me derrotar na cama, bem, pensei, grande parte da missão concluída, só falta reintroduzir a piranhazinha na sociedade e sair disso tudo com o couro salvo, mas, pensei com muita propriedade profética, nunca é fácil desse jeito, foi o que pensei, antes de dar um trago naquele baseado e dormir, devo estar ficando fraco pra caralho

(e continua)