domingo, 28 de março de 2010

A Minha Bigorna


A minha bigorna cantou uma ária de Puccini com com muita elegância.

Depois me disse que estava esperando um filho. Abriu sua vagina e me mostrou o feto de bigorna que havia dentro de seu útero: uma pequena bigorninha.

Me contou sobre o seu passeio no parque. Como correu por entre as árvores, brincando com os cachorros que lá estavam e com os esquilinhos. Também brincou com algumas crianças, a minha bigorna adora crianças. Brincou de jogar bola e de esconde-esconde.

Ela disse que havia dormido muito bem naquela noite. Estava tendo problemas de insônia, mas tomando os remédios indicados pelo médico estava adormecendo com facilidade. "É a ansiedade", dizia.

Minha bigorna gosta de filmes românticos. Sempre se emociona quando os casais conseguem ficar juntos no final. É muito sentimental.

Ela também gosta muito de luta livre, de ver o sangue, os osso quebrados. Ela grita e gesticula em frente à tv.

Trabalha num escritório de advocacia. Nunca perdeu um caso. Se dedica de corpo e alma ao trabalho.

Nas horas vagas pratica ginástica olímpica. É uma bigorna muito elástica. Os outros atletas a invejam. Talvez participe da próxima Olimpíada.

Está escrevendo um livros de memórias. Minha bigorna viveu coisas que até Deus duvida.

Está ficando enjoada de pular de paraquedas. Quer algo mais emocionante.

Adora comer. Embora goste muito de junk-food, procura comer coisas mais saudáveis, não quer ter problemas de circulação quando for mais velha.

Na revista Forbes foi considerada uma das bigornas mais importantes do mundo, está entre as 20 primeiras.

Ela não vê sentido em fazer o que não se tem vontade de fazer. Vive pelas suas paixões.

Provavelmente foi a bigorna mais feliz que já existiu.

Minha bigorna amou e foi amada.
Solucionou os problemas da paz e da fome mundial.
Me olhou com os olhos marejados de lágrimas e sorriu.
Levantou voo e viajou até o fim do universo

(E foi utilizada para malhar e amoldar metais)
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sexta-feira, 26 de março de 2010

Duas Mãos


Arrepios. Não pisco os olhos, respiro convulsivamente e tremo até despedaçar. Me invadiu uma imagem em preto e branco: senti um milhão de espasmos que surgiam com força inextinguível. Um grito brotava e, quase paradoxalmente, todo meu ser explodia numa risada. Atomizei-me num acesso de riso.

Meu calor não te assusta, nem minha luz. É o silencio da minha alma que me condena? O Amor é visceral. Indiferente às diferenças, a incondicionalidade do descontrole - mais uma vez. Uma bruxa em depressão "Toda mulher é uma puta".

São as borboletas flamejantes que se apossam do meu ventre. Um prazer, seguido do meu nome - um pequeno orgasmo interior. “Sou casado comigo. Vivo para mim”. E agora o que eu sinto é somente o que eu faço. Vou me perder novamente.

A verdade é a imaturidade, pseudo morte. Mas nesta manhã sinto real - é tão irreal assim? Calmo e tão excitante, tão extremamente excitante. Calmo e tão puro (e é apenas você). Como poderia ser mentira? “Não quero o seu amor. Não é disso que preciso.”

Vi luzes silhuetar formas de enfermeiras gordas e seus egos emplumados. Unhas de plástico. Brincos de vidro. Enganado... o seu coração que é muito errado. "Contenha-se, e atenha-se ao desejo". O desejo e a raiva, e o desejo é a raiva. Toque-me mais uma vez.

Nos olhamos setenta e duas horas seguidas. Não era exatamente isso que escolhemos. Não é o que queremos? O que digo é exatamente o que eu sinto.

Eu posso ver onde falho, sinto onde dói. Exatamente como você disse: meus lábios só alcançam aonde eu vou. É aqui que fico triste e choro? Ou finjo que me importo? Devia usar a minha “influencia” enquanto a tenho para ir contra a corrente. Contra as idéias. Contra você.

Ele usa camisas de seda e fode uma buceta de cor diferente todo dia. Eu uso a mesma calcinha e camiseta a semanas. Odeia quando falo, e eu falo o tempo todo. Diz que poderá me buscar, mas continua inerte.

"Ela continua fria e não beija meus lábios - não como antes. A chamo de puta e ela não vai embora. Agarra meu colarinho como se a pudesse salvar de algum perigo, que não consigo enxergar. Prometemos muitas coisas e nenhuma vez pensamos que isso poderia ir e voltar, por meses e dias. Penso que um dia nos desejamos, mas ela não entende o meu mundo: diz que eu a enlouqueço, chora e borra a maquiagem. Depois, ainda em prantos, me abraça e me devora, a cada palavra e unha que encosta em mim."

Ele só fazia o que podia, e não podia fazer mais nada. Talvez tentar ajudar com a mente ou o olhar - mas em que isso ajudaria?


“Eu vivia azedando cada vez mais, vomitava de hora em hora e meus dentes estavam da cor de feijão. Ele ia todo dia ao mesmo posto de gasolina... abastecia com a mesma morena da bunda grande. A bunda abastecia seu carro. E ele desejava abastecer a bunda. Chamava isso de cadeia alimentar. Prostituto de merda. Soube que ele pegou sífilis e casou com uma vadia tuberculosa que tinha o pai índio e a mãe alemã. Na base da cocaína e uísque. Depois dos 27 arranjei um emprego, ganhei novos dentes após contar de forma fantasiada minha vida em um programa matinal de radio. Ouvi dizer que ele teve três filhos cegos.”

Ela era de plástico, mas morria todas as noites: era necessário mais de duas horas para que ficasse pronta. Na espera, não pôde mais pode ver. Sinto-me bem - ela diz - mas não vejo mais nada. Não havia qualquer tristeza no que dizia, não havia nem mesmo rancor. Ela apenas não via, e isso não era um grande problema. Talvez pudesse usar melhor agora os ouvidos, os sabores.

"Faz sete dias que não fumo. Faz esse mesmo tempo que não bebo."

Sempre finjo esse sorriso. E isso era triste, tão terrivelmente triste. Meus cães estavam presos e eu estava de olho em mim. Tenho os dois joelhos ralados, me ocupo em tirar a casca da ferida e acompanhar o reinicio da cicatrização. Faz uma semana que não durmo. Olazanpina, ritalina, aspirina, risperidona: meu bloco de receitas secreto, hoje eu sou a rainha da cidade. Vivo com amigos com tatuagens de verdade. Todo mundo conhece um ou dois segredos meus. Todo mundo me conhece, mas não sou de ninguém. Hoje estou com olheiras imperando sobre o resto do meu rosto. Mas amanhã eu serei o bom Deus e soltarei meus cães novamente.

"Maldita vadia idiota. Fala de mais e não sabe de nada. Me conhece menos do que o cigarro que mantém preso entre os dedos - dedos que deveriam ser meus. Grande merda" (escondo o melhor)."

Ele continua imaginando que compreende o mundo e não faz mais nada: só fingir que é quem é já deve ser bastante complicado - usar as mascaras que compra com o dinheiro sujo da venda de drogas e mentiras. Dizem que não vai acordar nunca se continuar andando como um imbecil manco.

Arrepios. Não pisco os olhos, não respiro e tento fingir que nada disso é meu. Um riso brotava, mas me atomizei num grito.


Frase Laranja da sexta feira da semana de provas da faculdade:
"A lei é a única expressão da vontade geral da nação"
Jean-Jacques Rousseau (Jurista Frances)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Passinhos Felinos

Entra felina pela sala, aturdida talvez, vai se esquiando pelos móveis da sala até encontrar o meu quarto e esbarrar no cinzeiro transbordando de cigarros e papéis amassados, dos recados antigos que ela deixara na geladeira. Post-its para que eu jamais esquecesse que ela esteve ali, mesmo que sua presença fosse algo tão pertencente ao passado. O carpete vai contando aos poucos sobre a noite passada, o que restou de um lanche rápido, algum poema meu sujo e rasgado por ela que se despe meio ávida, meio tímida, para uma única pessoa, ela mesma. Finjo como sempre que estou dormindo tão profundamente que não ouço os passos trôpegos dela seguidos de alguns soluços indo em direção a minha cama, onde se enfia por debaixo dos lençóis com uma delicadeza quase infantil, de criança com medo do escuro, que se enfia entre os pais de uma maneira que não os acorde, para que não a mandem para o quarto novamente, enfrentar o bicho papão noite após noite. Vai se acomodando, encontrando uma posição confortável até que um de seus braços fique jogado sobre mim num possível abraço. Sinto o cheiro de outros sobrepostos ao cheiro que o corpo dela emana, cheiro de saliva e de gozo, desodorantes de farmácia e loções após barba. O cheiro dela que se esconde de mim, este, ficou em algum outro cômodo. Então durmo.

Acordo e finjo surpresa ao encontrá-la ao meu lado e até consigo esboçar um sorriso quando acorda sorridente e me pergunta que horas são, e eu lhe digo olhando para aqueles olhos borrados de rímel e delineador que formam um círculo negro em volta deles e para aquele rosto de pele tão marcada por pequenas rugas e remanescências juvenis que formam um belo contraste, "São quase 11 da manhã, se não percebeu, já é hora de almoçar. Se quiser eu preparo o seu café da manhã, que na verdade, vai ser o seu jantar, correto?" e ela ri e eu sinto aquele hálito que denuncia uma noite entre doses e mais doses de conhaque, "posso dormir até as 3? Eu juro que arrumo a sua casa antes de você chegar" "Claro que pode, não precisa se preocupar com isso", mas ela vai dormir até as 7 da noite, quando vai se levantar e ir caminhando desengonçada com os seus saltos e apenas eles do quarto até o banheiro, onde vai se olhar no espelho e se assustar ao ver que ao redor dos seus olhos de mel há um profundo cansaço e sua pele se desfaz entre uma maquiagem e outra. E vai chorar sentada na privada, por se ver indo embora sem se despedir de si. E roubará uma das minhas camisas que estão jogadas do cesto de roupa suja e com aquele andar de felina ferida vai esquentar a comida que deixei pronta esperando que fosse seu almoço mas como sempre, é sempre o seu jantar e vai fuçar nas minhas gavetas por alguns trocados para o táxi, se tiver sorte, ou para o ônibus, se tiver azar. Volta para a cozinha e desliga a panela e a deixa sobre a mesa com uma colher, que, aos poucos, vai rechando e levando a boca enquanto vai lixando as unhas dos pés. Mal termina de comer e corre para o banheiro, tentar se reencontrar entre uma ducha e tapas no seu rosto. Algumas fluoxetinas escondidas entre seus cremes também ajudam a delinear aquele sorriso feito de inocência. Deixa a porta aberta durante o banho e a tv da sala ligada no noticiário, onde, saí correndo para ver a alta do dólar, talvez para incrementar o papinho de mulher-inteligente-que-sabe-que-o-dólar-está-a-R$2,25, quem sabe, alguns homens devem gozar melhor sabendo disso. O que me irrita porque acaba molhando todo o chão da sala que,por sua vez, denuncia a saída dela, marcas de pés sobre dedinhos, bailarina entre a corda bamba e o desespero.

Uma vez ou outra me encontra pelo caminho, sorri, dizendo claramente que não preciso esperá-la a noite, talvez só volte de manhã, ou nem volte.

E assim, como sempre, ela vai. Passos firmes de quem não irá voltar com passinhos de felina atropelada, felina vira latas que é, com esse papinho de que "hoje eu não vou voltar porque eu encontrei alguém melhor que você, entende? Sabe quando encontra o homem da sua vida e desse dia em diante, tudo faz mesmo sentido?". Mas sua vida termina todo final de noite, recomeça a tarde. Amanhã vai ser outro, vai lhe prometer amor por uma noite, mas não vai se importar se ela entrega o seu coração junto com o corpo, se agarra a ilusão de que, causando alguma felicidade, estaria salva.
Felicidade, querida não é ver o sorriso de alguém quando te come, eu deveria ter dito antes, talvez hoje, mas sempre acho que ela saberá um dia por si mesma, porque estragar a surpresa? E ela voltará, desmanchada e com a noite nos olhos e com " tive pena de te abandonar, porque eu sei que você não vai sobreviver sem mim, eu sei disso. E no fundo, as vezes, acho que te amo". E recomeça tudo novamente. Jamais digo que em meus sonhos, não é por pena que está comigo. E não é prazer que lhe faz sorrir.

Eu a odeio. Odeio por provocar em mim esse maldito amor incondicional que não me permite esconder a chave em outro lugar, essa piedade que explode a cada movimento dela que implora por proteção e compreensão pela sua procura errante pela noite por alguém que, como eu, a ame com estes olhos borrados de negro e cinza sobre uma pele que se desfaz, que veja nas suas rugas traços perfeitos e nas suas espinhas inflamadas a sua juventude aflorada num sorriso tão doce e tão puro apesar do cansaço que o contorno dos seus lábios denunciam, que cure os seus pés, pés felinos, de passinhos ágeis e delicados, fatais e atordoantes, tão feridos pelas pedras. Que só veja nela o que eu vejo todos os dias quando ela acorda sorridente fazendo que mesmo que eu não queira, sorrir ao ver a mulher da sua vida. Por isso ela sempre vai voltar. Por isso ela sempre sorrirá mesmo sem ter um motivo para sorrir quando desperta. Porque vê nos meus olhos a mulher que ela sempre quis ser para mim, e já é sem perceber.

Mas me calo, nem digo nada a ela. Meu silêncio já diz tudo ao encontrar o som dos passinhos felinos dela em direção a minha cama

domingo, 21 de março de 2010

Parto Invertido

(clique para aumentar)


Eu mergulho meu corpo
Dentro de sua vagina

Ela abre as pernas
E vira sua vulva para o alto

Subo numa escada
Me ponho em posição fetal

E de um salto
Adentro o seu útero

Em alta velocidade
É uma boa sensação

Sentir o útero se rompendo
O corpo da mulher explodindo

O sangue jorrando
A carne se abrindo

O parto normal
Entrega ao bebê a vida

O parto invertido
Retira da mãe a vida
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sexta-feira, 19 de março de 2010

Novela V

Saí do bar com a testa sangrando e praguejando contra Deus e o mundo. As pessoas me olhavam com medo, como se fossem ficar doentes se chegassem perto demais. Sem ninguém no meu caminho chegue rápido em casa.
Badinbed se assustou quando eu cheguei. ”Porra, o que fizeram com sua cara?!?” - ele perguntou.Eu tentei simular uma falsa calma e falei pausadamente e no tom de voz mais ameno possível naquele momento e disse “Aquele viado amigo seu, um Moicano... ele tem amigas que não possuem o menor senso de humor. E sua cara tem algum motivo para ser assim?” Ele olho para o chão, pensou e disse “Minha mãe fazia musculação enquanto estava grávida.” Ah tá.
Fui ao banheiro, lavei a cara e não achei nada que pudesse desinfetar o machucado. Perguntei ao Edivaldo onde tinha qualquer coisa para lavar a cara, eu tinha caído de cara no chão do bar... eu tinha que lavar a cara. Ele me mostrou a mão, tinha uns quinze cortes de todos os tamanhos. Eu perguntei que diabos ele estava fazendo, ele sorriu “Comprei um canivete butterfly, passei o dia tentando aprender aqueles malabarismos que eu vi na internet...” Eu interrompi e disse para ele arranjar um emprego. No sofá perto dele tinha um copo pela metade de algo que parecia uísque. Joguei na testa para tentar limpar, mas era chá gelado. Então tomei o chá e fui dormir.
Acordei as 11:11 da manhã. Meu travesseiro estava sujo, mas o corte já estava seco. Saí de casa sem camiseta, parei em uma loja e comprei uma camiseta branca por R$6,99. Fui na farmácia fazer um curativo e depois parei na padaria para tomar café. Edivaldo estava lá conversando com a Margarida. Tomei o café, eles me chamaram para tomar cerveja. Eu aceitei.
Era sábado, estava calor demais e o suor fez o curativo descolar da minha testa. Chegamos no bar, o garçom se chamava Tomás porque seu pai era fã do Zizinho, que foi atacante da seleção brasileira de 1950, porém Tomás era conhecido por Rato. Muito estranhamente Rato é apelido do apelido. Tomás é careca desde os vinte anos, possui orelhas e nariz pontudos e dentes horríveis. Ele era garçom de um bar Cult nos 70 e foi apelidado de Nosferatu, quando o bar Cult fechou, ele foi trabalhar em botecos e padarias e com o tempo Nosferatu virou só Rato. Mesmo assim esse apelido cabia nele.
Magrida e o Bad começaram a pedir cerveja, e chegou um cara amigo dos dois. Não sei o nome dele. Ele era tatuado e se achava o Billy the Kid, usava chapéu de cowboy... Jesus, ele estava do lado errado do mundo... ficava contando historias de brigas e esse tipo de coisa. Resolvi ficar quieto, briga de bar dois dias seguidos não era coisa boa.
Eu estava me sentindo uma faca num rodízio de sopa. Recebi uma mensagem no celular onde Eva dizia que em duas semanas estaria de volta. Era a data para minha sorte mudar.


Frase Laranja da Sexta Feira:
"Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é?"
Pedro Juan Gutierrez

domingo, 14 de março de 2010

Os Ossos Estalando

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Ele ficou parado e sua carne começou a explodir, o sangue a manchar as paredes e os ossos estalando, todo mundo ficou cantando umas músicas, muito alto, não dava pra entender nada, e o sangue ficava sendo esguichado na cara das pessoas, algumas até paravam de cantar para beber algumas gotinhas que voavam em sua direção, mas logo vinha o maestro e obrigava as pessoas a voltarem a cantar, pois era errado parar de cantar, elas também batiam palmas com força e bem devegar, saboreando cada bater e olhando para as palmas vermelhas, tanto das batidas quanto do sangue esguichado, os gritos do homem também atrapalhavam a concentração pois ele gritava muito alto, alto que nem o estalar de seus ossos, e o maestro continuava a reger a música das pessoas que cantavam, todas com a roupa empapada de sangue, e o homem também, com o corpo empapado de sangue, com alguns ossos à mostra, estalando, a orquestra tocava a música muito alto e com vigor, alguns instrumentistas chegavam bem perto do homem que esguichava sangue e tocavam perto de seu ouvido, para ele sofrer mais, então ele gritava mais alto ainda, os percussionistas batiam com os pratos ao lado de seus ouvidos, o homem ficava com os osso estalando e os ouvidos em chamas, depois vinham as pessoas com imagens feias e horríveis e as mostravam ao homem, e isso o fazia sofrer mais ainda, imagens de sua família pegando fogo, de seus parentes esquartejados, e imagens dele fazendo sexo com seus filhos mostrando um rosto feliz, enquanto isso o maestro pede pra orquestra tocar mais alto ainda, pede para todos se levantarem e ficarem o mais próximo possível do homem e que toquem bem alto em seu ouvido, o coro também estava se esguelando, e os osso do homem estavam todos se estraçalhando enquanto estalavam, o público do concerto estava muito feliz e extasiado, se contorcendo ao som da música dodecafônica e ao som dos ossos estalando do homem, todos gritando muito alto, tentando gritar mais alto do que toda a orquestra, que o coro e que o homem berrando com seus ossos estalando, os policiais invadiram a sala de concerto e começaram a gritar, mas ninguém notou, não dava pra ouvir nada além da massa sonora disforme sendo entoada por todos presentes, então um policial subiu no palco e começou a espancar o homem, começou a bater em seus ossos estalados e voou muito sangue, depois que o homem caiu morto, todos começaram a gritar para o policial, já que não havia mais porque gritar para o homem, que estava morto, e o policial começou a se sentir muito mal, estavam todos tocando, gritando e olhando em sua direção, foi aí que os ossos do policial começaram a estalar e ele começou a esguichar sangue.
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sexta-feira, 12 de março de 2010

Novela IV

Já fazia 45 dias desde aquela noite. Eva não deu sinal de vida e isso me deixou meio atordoado. Não que eu já estivesse “apaixonado” ou coisa assim. Eu tinha ficado cinco meses sem comer ninguém e até que eu estava acostumando, mas depois daquela noite percebi que faz falta. Passei dois dias de bom humor, até arranjei um emprego temporário em uma fabrica de garrafas plásticas. Trabalhei três semanas e ganhei R$500,00.
Bom, tinha sido só uma noite. Ela era uma gata de peitos vulcânicos. Eu estava com vontade de falar com ela, sair, tomar umas... Esse tipo de coisa.
Eu pedi o telefone dela para a boxeadora que ainda estava saindo com o Edivaldo. Ela usou aquelas mãos enormes de gorila para escrever em um guardanapo e me entregou. Eu liguei, ela disse que estava viajando e que ia me ligar quando voltasse e que a gente ia sair e que ia me pagar uma dose de Jose Cuervo e ela foi tão clara nas palavras que eu não entendi nada da conversa.
Desencanei. Tomei três cervejas e comi uma omelete. Sai de casa. Descendo a Augusta olhei para a direita quando passava na porta de um bordel chamado Las Jegas e vi uma mulher correndo nua lá dentro. Os seios moles balançando e uma cicatriz roxa de cesariana, ela era mais porca que jega.
Fiquei com dor no joelho e parei em um bar aleatório. Ouvi alguém me chamar, era o cara de cabelo moicano que tinha ido uma vez em casa. Ele estava com duas garotas e tinha uma cadeira vaga... Eu fui e me sentei. Uma obviamente estava com ele. A outra era bonita e estava avulsa, não bebia só fumava.
Eu nunca fui bom com conversas, e quando a conversa era com mulheres bonitas que eu não conhecia... Eu ficava meio nervoso. E ficar nervoso me deixava irritado. Irritação + nervosismo + cerveja, isso fez com que eu criasse nela uma antipatia instantânea. Ela dava respostas atravessadas e mal educadas em tudo que eu dizia... E paciência nunca foi um ponto forte meu. Então fiquei quieto e me concentrei na cerveja.
Eu não prestei atenção e não sei como o assunto caiu em big brother. Ela disse que havia feito o vídeo de inscrição no BBB e que estava confiante. E eu respondi “BBB? Biscate de buteco barato? Acho que você tem boas chances!”. O moicano e sua garota riram, e ate eu achei uma boa tirada! Ela ficou possessa... Não sei o que ela estava fumando, mas não ajudou em nada para ela se acalmar. Jogou o cinzeiro que bateu no meu peito, o copo vazio na sua frente passou perto da minha orelha. Eu pedi para ela se acalmar, usando toda a serenidade possível... Com um tom de voz estilo Mallu Magalhães. Ela jogou a garrafa de cerveja, ela bateu bem no meio da minha testa e caiu no chão sem quebrar. Eu apaguei por uns três segundos, acordei a tempo de sentir minha cara batendo no chão e se danificando mais que a garrafa.
Eu levantei, estava sangrando e sujando minha única camiseta que ainda não estava furada. A garota ainda estava furiosa e ate o moicano estava ameaçando engrossar comigo. Mandei os dois à merda e sai do bar sem pagar. Tem dia que você tem que sair de casa com três pedras em cada mão e não pensar duas vezes antes de sair atirando. Tomanocu.


Frase Laranja da Sexta feira:
"Socorro! A ditadura acabou! Pode-se fazer qualquer coisa, mas não tem nada para fazer."
Tom Zé

domingo, 7 de março de 2010

Interações Pós-Podrão

A festa estáva ótima, estavam todos se divertindo. Telosmith e Artemanho haviam acabado de chegar. Antes de entrar na festa passaram no podrão do Humaitá, o famoso Dogão Do Biofá. Comeram um belo cachoro-quente, com muito ketchup, mostarda, ovo de codorna, batata palha, maionese, queijo ralado, bacon, ervilhas, milho, sal, pimenta, toucinho, açucar, M&M's, caramelo, calda de chocolate, confetes, arroz, feijão, e brócolis.

A festa estava bem animada quando entraram, e logo começaram a interagir com as pessoas. Logo avistaram duas garotas que consideraram interessantes. "Vamos falar com elas" disse Telosmith, "Sim" respondeu Artemanho. Eles caminharam até as garotas fazendo uma dancinha inspirada na música que estava tocando, o que as garotas acharam ridículo apesar deles acreditarem estar fazendo algo muito sensual e interessante.

Começaram a conversar com elas. Apesar do papo ridículo de Telosmith e Artemanho, as garotas continuaram a falar com eles devido ao alto nível de álcool em seus sistemas circulatórios. Em alguns momentos, apareceu uma amiga das garotas com uma máquina fotográfica. Ela disse que queria tirar uma foto nossa, sentados num sofá perto de onde estávamos. As garotas, entediadas como estavam por conversar com Telosmith e Artemanho, aceitaram, e eles, por sua vez, pensaram que era um bom motivo para fazer mais alguma das brincadeiras sem graça que eles fazem com garotas.

Enquanto caminhavam para o sofá, Telosmith e Artemanho começaram a sentir algo estranho em suas barrigas, como se estivem recebendo facadas no estômago, além de um potente borbulhar interno. Para não estragarem o momento, fingiram estar tudo bem. Quando se sentaram no sofá, a situação se tornou insuportável. As meninas já estavam posando para a foto quando Telosmith e Artemanho começaram a despejar no sofá todo o líquido marrom que estava lutando pra sair de dentro deles.
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sábado, 6 de março de 2010

Laurinha

Deixou-o no canto, perto da escada. Laurinha o calçou e faltaram dedos para preencher, algodão resolve, vermelho verniz, do jeito que sonhou. Desejei por tudo e essa mãe dentes podres unhas encravadas, sovina, o escondia debaixo dos degraus, um tropeço bastaria e o seu corpo ali derrotado, encurvado abaixo do meu, cravo meus saltos em sua pupila úmida. Não! Laurinha vai atrás daquela que com a mão na cintura canta um samba de seu tempo. No banheiro, o batom e o lápis contornando os olhos enrugados, a velha rotina, rouge e leite de rosas, entre as pernas um caldo grosso, junto à privada os remédios para os ossos. Laurinha borra o canto da boca, quando beijada, saiu assim, toda esparramada. Disse que com o lápis preto puxando os olhos, pularia alguns anos, casas de amarelinha, riscos na porta do quarto, e entre as pernas ganharia Gabriel que só se esparrama na cama da mamãe unha encravada, quando ela me diz que ele veio mesmo é trocar a fechadura. Escuta a porta bater e o carro logo ligar, morre, tenta novamente e nada do carro acender, a vaca xinga alguma coisa e retorna para dentro. Laurinha do banheiro vem até o carro trocando as pernas, não se encaixando, fósforo fora da caixa, ela acende um cigarro para provocar. Pés firmes, ela acelera. Diz good bye, cante uma nova canção, olhe como eu danço e como me entorpeço nessa vida crua pus tão sofrida. Escorre sangue de seu nariz intocado. Laurinha olha para o corpo de sua mamãe crânio rachado sem notar que a sua sombra também se foi.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Mulher

Eu era fascinado
por suas costas frágeis.
Ela adorava a minha boca
dizia ser bonita e
a beijava até
que meus lábios inchassem

Perdíamos muito tempo brigando
e não foram poucas as vezes
em que acabei no sofá...
ou no quintal

Dizia que eu atraia
a desgraça para os cães
e para as mulheres
Praguejavame batia e me xingava
mas sempre falava
que comigo ao seu lado tinha a certeza
de que não precisaria procurar
por mais ninguém.
Talvez só por um bom psicólogo.

Ela não tem muito tempo para mim
e eu fico andando de um lado
para outro
com a janela aberta
de cueca
esperando

ela deixou um bilhete
dizendo que não ia mais voltar
Disse que se sentia presa
sentia que me prendia
e que nós dois ainda tínhamos
que percorrer um longo caminho
para lados opostos

Eu estou bem
na verdade estou meio gripado
e sozinho
a casa é grande
e vazia
faz barulhos estranhos a noite
são quatro da madrugada
e é melhor eu dormir.



Frase laranja da quarta feira:
"Jesus tinha um irmão gêmeo que não sabia nada sobre pecado"
Thurston Moore