sexta-feira, 30 de abril de 2010

Medo do perigo e o ato ritual é uma tentativa simbólica de afastar o futuro

Existe algo errado em mim, estou me deixando morrer de fome por assombros de minha própria psicose. Eu sou um ser humano de insipidez raríssima, isso me torna único pra ela que beija cem bocas, todas sujas e promiscuas. Ela tem o maior decote e os mais belos seios de São Paulo. A cada noite em uma cama diferente (vende a alma, aluga o amor e dá a bunda). A cada dia um problema diferente (cetamina).
Não me ame e sangre todo mês. Ah, se eu pudesse correr ou foder como antigamente... Quem me dera unir minha pica a tal ferida. Gaveta vazia, viciada, prostituta! Sentimentos que eu não posso socar como a boca enrugada e vermelha... Um beijo se rompe com violência em meu punho. Não sei andar mais sozinho pelos caminhos... Porque não sei mais andar sozinho (O problemático).
A osteoporose juvenil... Meus dentes estão esfarelando... Cuspo o tempo todo. Não sei o que está errado... E eu me conheço de cor e salteado. Existe algo horrível acontecendo dentro de mim. Uma dor, como se eu vivesse engasgado. Convulsão, convulsão... Meu fígado ardia. Vomitei o estômago e tive uma noite horrível... Sujei o tapete laranja com vômito roxo. Cai de uma vez e por uma vida inteira. Ao som de mulheres que masturbavam violentamente violinos... Alguém apontava todos os meus defeitos desde o pé do diabo até o anjo obeso. Então eu acordo para não dormir nunca mais e eu volto a ser o excêntrico de tristeza e medo.

Frase Laranja da Sexta Feira:
"Quando a gente está cansado, dá uma bruta vontade de dizer que sim"
Millôr Fernandes

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aquela velha maldição

Sem essa de me comeu, agora me aguente. Nem filho a gente tem, caralho.

E como eu não nasci para romances, especialmente os ruins, eu vou para a farra. O bar não deve ficar muito longe não é mesmo? E aqueles bêbados que jogavam futebol comigo, estudavam comigo e comiam mulher comigo devem estar lá também. Precisam estar lá. De outra forma, beberei sozinho e... Assim não há nenhuma salvação da existência. Bêbados solitários não fazem parte do plano original de Deus para afogar a Terra em álcool quando ela se cansar de água.

Lá irei beber fervorosamente, até cair para trás, lá na Lapa onde os pandeiros e caixas de fósforos nunca param quando há mais de três almas miseráveis reunidas, beberei de General Severiano até a Gávea e desligarei todas as televisões de bar enquanto isso, afinal os bêbados têm de causar alguma revolução, uma reversão na espiral de sobriedade do mundo, todos têm mais é que cair para trás e não irei ser rei de porra nenhuma quando completar minha bêbadotona a única coisa que irei fazer é tomar um vinho barato com gosto de vinagre na beira de praia e terei minha cirrose transcendente, deixarei o mar roxo com meu vômito sábio e aí então levantarei mais uma vez, curtir as últimas horas, os pênaltis, os pequenos coros de vozes ignorantes, os gringos pervertidos e drogados, não existirá mais ninguém e existirá a porra toda equanto as televisões continuarem ligadas enquanto os rádios não explodirem em chamas enquanto os computadores de última geração não forem quebrados aos meios por crianças incosequentes de trinta e nove anos, enquanto nós não quebrarmos e não tocarem fogo em nossos hardwares eu tenho a impressão que pandeiros cavaquinhos e caixinhas de fósforo irão continuar

E aí, novamente, até segunda feira, que será o dia em que maldição de ter vida acabará de novo,

E acordarei do lado daquela puta velha

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sobra de Sombras

São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o seu corpo será luminoso ; se porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas são.
(Matheus 6: 22-23)


No princípio fez se a luz, que as sombras aos poucos foram consumindo aos longo dos dias em que aqui permaneci. O que me restou foi um fino feixe de luz que se desprendia de um buraco feito na parede, por uma bala. A muito tempo já não ouço o barulho das balas se perpetuando pelo ar e isso me doí como uma rajada de tiros. Elas gritavam que ainda restava alguma vida a ser eliminada, mas agora, esse silêncio sussura que estou só e que provavelmente devo estar morto. Mas ainda sinto a minha pele escorrendo pelos meus ossos e o meu sangue escorrendo pelos meus lábios. E a cada dia essa sensação de vida se torna estranha.

Meus olhos se atrofiaram, necessitados de cores, mas ainda consigo ver através das sombras: outras sombras. E as lhe dou cores, das minhas lembranças. De dias passados, quando tudo era luz, quando fazíamos fotosintese: transforamando tudo que era cinza e pesado em tudo que podia ser leve e alegre. Balão de gás. Lacrimogênio. Lágrimas secas que sustentam as linhas do meu rosto, cicatrizes feitas pelo tempo e feridas das quais ele jamais secará.

Sei que por aqui há um espelho, sinto medo de encontrá-lo, tal como um monstro que se esconde por detrás das sombras. Eu sei que já não devo ser o mesmo e o que os meus olhos irão ver não será o que um dia fui. Nem mesmo a sombra, por mais irônico que seja. Mas temo. Minha mãe dizia sempre, acho que ainda lembro, que a gente sempre se torna o que tem em nossa volta.

Algum tempo que eu não sei medir quanto, senti o gosto da luz, e era doce como açucar e mel. Minha lingua já acostumada com o sabor da solidão, se assustou, mas logo se entregou a esse prazer como o restante do meu corpo. Sei que ela me atravessou e me aqueceu, mas mais do que isso, trouxe meus sonhos de volta. Estremeci. Fechar os olhos e se entregar aos sonhos onde tudo poderia ser como não é e não apenas às minhas lembranças de tudo que foi e não será mais, era mais do que eu precisava. Então me entreguei definitivamente.

Hoje, o que havia sobre minha cabeça, desabou. Fechei os olhos e senti lentamente aquela dor inundando o meu corpo. Não era a dor provocada pelos escombros quebrando os meus ossos. Talvez eu não tivesse mais ossos, nem massa cárnea, mas a dor era como milhões de lanças fatiando o que existe de você. Sorri, sentia tanta saudades do que havia além daquela fresta na parede que esqueci completamente de que morria.

Então olhei, antes de desaparecer, para o espelho.

domingo, 25 de abril de 2010

Impressões acerca de uma realidade objetivamente relativa sob o ponto de vista de alguém numa realidade subjetivamente absoluta

.
Vai se fuder
Vai tomar no cu
Filhadaputa
Vai pra puta que te pariu
Morra, caralho
Se rasga, explode
Vira merda, apodrece
Acaba, se fode
Fode o seu própio cu
Com a sua própria mão
E depois se fode com seu pé
E depois enfia a cabeça no cu
E grita que é um filho de uma puta
Arregaçado, cagado, demente, escrotizado
Vai chupar a própria pica
E aproveita e chupa o próprio cu
E depois caga na sua boca também
E vê se engasga com a própria bosta
Só pra depois vomitar e comer tudo de novo
E sair gritando pela rua
Que é um filhadaputaviadofilhodeumaéguaarrombadoquechupaaprópriapicaecomeaprópriabosta
.

sábado, 24 de abril de 2010

Uma Noite Com Valéria

Até amanhecer, os olhos dela continuarão os mesmos, e você terá o terrível desejo de parafusá-los. Sua mão dentro deste poço se perderia, sua vida em pó e o pó no ar seria. Tem aqueles pés que procura um deserto, uma voz que soa igual ao vento que invade o quarto.

Como uma vida dentro de uma concha encoberta por um oceano. Deixe que lhe toquem, Valéria.

Eu sei que ela escreve nas paredes brancas antes de dormir, que não corta as unhas, e rabisca num caderno que fica na última gaveta logo abaixo das calcinhas. Quem foi que soprou o seu castelo de cartas, Valéria? Era lá em que seus sonhos dormiam.

Nem mesmo se dez anos passassem atrás das janelas de madeira ela não se perguntaria o que foi feito. Valéria esqueceu do tempo e vive dentro do sono de um recém nascido. Recolhendo-se como se aceitasse o destino, todo um mapa entalhado em sua mão. Cortando o meu caminho com seus traços precisos, fatais. E como senti.

Há vida

Dentro dos potes

Acaso trago-lhe doces

Retirando o sal que encarde o céu da sua boca

Vermelho como aquelas tardes do ano passado em que me perdi

Você dando-me a mão, retirando a garrafa entre os dedos, me levando ao pântano.


De nuvem dizem ser feita. Vapor e distância. Valéria deita novamente na cama. Não sabe o motivo da noite a não ser para sair dali e cair em uma estação perdida com trilhos enferrujados num lugar nunca preenchido. E se veste para sair, e se perfuma para ficar de braços cruzados olhando a lâmpada que pisca. Lobos no quintal vigiam.


Eu

Nunca lhe entendi

Valéria a que respira conforme o dia

Me disse que não amaria mais

Andando sem medo por aquela estrada de pedra e mato

Saindo da minha vida como se desse um passo para dobrar uma simples esquina.


Estou ali, naquele cheiro de mofo grudado na parede, no mesmo silêncio impressionista. E as cores morrendo todas. Até as pálpebras fecharem, você terá o terrível desejo de com uma faca rasgá-las.

É que seu peito descansa da respiração sofrida, seus lábios embranquecem ao longo da noite perdida, teu corpo enrijece, apodrece. Apodrecida sob a cama, lobos no jardim uivando para o sol que nasce.



Vejo

A luz minguando

Dentro de si a voz que desvela

E dentro do silêncio das palavras não ditas um borrão num papel

E é o papel, e é o borrão, corpo. Parede, olhos e noites.

Cinzas do qual sobram, frias testemunhas. Valéria em noite desfazia.

Lembro.


*Conto escrito no ano de 2008.

Lembro.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quase Literal

Merda... menos que um cão, já que ele tem os dentes melhores que os meus. Sou aposentado com saúde. E vivo na cruz que me é mais conveniente. Respiro. Pisco os olhos periodicamente. Captopril, Prozac, Viagra, Tylenol... tudo com recomendação médica. Perdi 12Kg depois que comecei a comer coisas vegetais e frutas... Agora estou com 42 kilos. E mesmo no auge da minha magreza ainda sou mais imperialista que um gorila macho (ou os bigodes de Dali). Sou perseguido e cortejado por ladrões, traficantes, bêbados, policiais corruptos, moradores de rua, freiras, falsificadores, comunistas e donas de casa, todos me pedindo, me roubando e me apalpando. Visito quinzenalmente minha psiquiatra que tenta desesperadamente fazer com que eu pisque os olhos novamente. Espumo constantemente de minha bolha de sangue de menino... Mina em lagrimas... Mas sempre fria e estática, a concha que eu amo. Agora é só terminar sozinho. Magro, doente, careca, barrigudo e com a ponta dos dedos amareladas. Quando ela chega no quarto diz as palavras mágicas para me fazer sair da cama. “Seu cu de porco desgraçado! Vou te ensinar a não dormir com cigarros acesos na mão e olhar na porra dos dois lados antes de atravessar a rua!”. A vida é uma sacanagem de merda. E amanhã ela vai voltar, vai sacudir e gritar com esse corpo frio e branco de novo.

Frase Laranja da Sexta Feira:
"O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de não pensar "
Fernando Pessoa

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sempre atrasado

Queria ter-lhe dito antes da partida, mas se eu lhe falasse da partida seria como não querer partir. Preferi o silêncio escrito em letras amíudes, um silêncio que só você consegue ler. Não posso mais me atrasar, você sabe, estou sempre atrasado para a vida. Peguei o bilhete, me despedi de toda a culpa, peguei o que havia de melhor em mim sobre a cama e fui embora.

Por muito tempo eu perdi a vida pelas estações, a esperando. Passa tão rápido rente ao nosso corpo, que mal conseguimos entrar em um de seus vagões, então eu fico naquele desespero de, ter que pular entre o vão e a plataforma para poder alcançá-la. Não quero embarcar com Caronte, se é que estou sendo claro, não por enquanto, digo, ele sempre vai estar a nossa espera, porque adiantar as coisas? Você não quer embarcar nela, respeito sua decisão, mas eu preciso correr antes que mais uma vez, por todas as vezes, eu a perca. Ela não marca hora, a vida. Nunca espera por ninguém e nem vai esperar por você. E nós não esperamos pela mesma vida, no final, se o há.

No caminho, para a vida, comprei uma garrafa de vinho. Uma distração que se tornou em alguns goles uma maneira de me recordar do seu sabor. Talvez se pergunte qual o seja, mas ficarei calado. Prefiro que jamais saiba o sabor que a solidão tem. Me esbarrei com algumas pessoas, outros atrasados como eu e percebi que , quanto mais pressa temos de entrar na vida, mais atrasados chegamos por errar o caminho. É verdade, julgue me um cretino por não avisá-las, por vê-las pegando qualquer direção que não seja a da vida. Ou julgue-me um tolo, por achar que somente eu sei o caminho.

O que é certo para você prá mim há muito tempo já se tornou errado. Então deixei os cigarros dentro do maço, dei adeus ás nossas ruas, me levanto com o sol e me deito com a lua, o sexo já deixou de ser minha moeda de troca e espero muito mais do que o amor. Mantenho meu corpo são, minha mente livre, digo, não a prendo a pormenores, não sigo conselhos e livros de auto-ajuda. Deixei os escritores e os poetas falando sozinhos.

Mas a vida tem dessas coisas, um dia, ela inverte tudo, vai ver.

Um dia, compro um bilhete de volta à você.

domingo, 18 de abril de 2010

Eterna Busca Pelo Buraco

.
A vida é essa busca eterna de encontrar um lugar pra minha pica. Um lugar onde possa meter, meter, e meter, até enjoar, para assim migrar para outro buraco. Ou então ter vários buracos ao mesmo tempo para poder meter. E então meter, meter, e meter nos vários buracos até não ver mais nenhuma graça neles e sair procurando buracos novos.

Tudo na vida é feito no intervalo dessa busca. Fazemos um intervalo para dormir, outro para trabalhar, e logo voltamos a procurar buracos. A vida seria mais fácil e simples se não tivéssemos que interromper a nossa busca com outras coisas, mais rapidamente iríamos chegar ao nosso objetivo buracal.

Na verdade, nada seria feito na vida se tivéssemos todos esses buracos à nossa disposição, pois ficaríamos metendo, metendo e metendo eternamente, até que cairíamos mortos de cansaço ou de fome. É possível que tenham existido (ou que venham a existir) civilizações que passaram por isso em algum momento, mas justamente por isso, elas desapareceram e não temos notícia delas. Não, não haveria documentação que provasse a sua existência; também, quem seria idiota de criar documentos escritos quando se pode foder ininterruptamente?

Provavelmente, nestas civilizações avançadas, as mulheres seriam referidas como Buracos, pois esta seria a única função delas na sociedade. Elas, basicamente, ficariam nuas o dia todo com as pernas abertas, deitadas na cama. Quando algum homem quisesse, iria até lá e pica lá dentro. A qualquer momento. E as mulheres não iriam reclamar, afinal de contas, elas não teriam de fazer mais nada além disso. Seria um tanto fácil a vida pra elas. Quando algum homem se enfezasse, ele lutaria com alguns outros, mataria os outros, e carregaria a mulher para casa. Lá haveria uma jaula ou cofre onde a mulher seria guardada, toda feliz.

Haveria a disputa de qual mulher teria o melhor buraco. Programas teriam concursos sexuais nos quais celebridades fariam sexo com as concorrentes e depois debateriam, numa mesa redonda, qual buraco havia lhes proporcionado mais prazer.

Obviamente, numa sociedade dessas surgiriam casos como o de Canibrédis, pois a falta de sexo seria tão grave quanto a falta de ar.

Caminhando pela rua, Canibrédis gritava e esperneava. Batia palmas e cuspia no chão. Era grosso e escroto. De repente, percebeu que seu pênis havia cometido suicídio. Abaixou suas calças no meio da avenida e contemplou o morto. O pênis estava triste e sem sexo há muito tempo. Melancólico. É muito triste ver que um pênis está melancólico, e não se pode fazer muita coisa por ele além de foder. Mas Canibrédis não estava fodendo. Ele apenas ficava vagando pela rua cheio das drogas em seu corpo.

-Mas que felicidade da puta que o pariu.

Então ele arrancou seu pau e o jogou na rua, bem na frente de um ônibus, que o esmagou.

-A vida sem pênis vai ser melhor. Não vou precisar mais de trepar nem de mijar.

Ele ria das mulheres gostosas que passavam. E das privadas que encontrava; mandou arrancar a de sua casa e colocou um fliperama no lugar. Então se lembrou que ainda tinha cu. Precisaria de cagar. Foi imediatamente a um cirurgião plástico e fechou o seu cú. Pronto, agora estava tudo resolvido. O que mais alguém pode querer? A vida é perfeita.

Se lembrou que teria fome, pois ainda tinha boca. Voltou ao cirurgião e mandou fechar a boca.

-Mas como você vai falar e comer?
-A ideia é justamente acabar com esses problemas.

Com a boca tampada, cu fechado, e pau suicidado, sentiu-se feliz. Embora não muito. Ainda podia escutar muita coisa chata e sem graça. Encheu os ouvidos com cimento para não escutar mais. Para melhorar de vez, arrancou os olhos com uma faca e tampou as narinas com Durepox.
.

sábado, 17 de abril de 2010

Desanuvia, Renata




Acordei e me disseram que estava preso naquela ilha sem nome nesse estado sem mar. Pediram para que se eu chorasse, chore baixo. E se correr, cachorros me matariam a mordidas. Imagino-os cavucando meu corpo atrás de carne e não consigo parar de rir. Estava perdido, ouvi, fim da linha cara, o máximo que você consegue aqui é um caranguejo comendo a sua foto 3x4, o que sobrou dos seus documentos sobrará de você. Fico rindo disso tudo e eles não acreditam que eu não queira correr ameaçando o mar com os meus pobres pés de homem, mas não, de raiva planto os meus pés na areia fina, o sol cega os meus olhos com sua luz branca, escuto o meu nome.

Renata disse para ancorar meu navio na esquina da sua casa. Essa garota sabe lidar bem com marinheiros, sabota seus binóculos, rabisca os seus mapas pedindo com carinho que ponha uma concha no seu ouvido para que possa ouvir o infinito. Pede que a guie, de olhos cerrados, sem medo, o seu corpo é pétala arrancada pela ventania, o resto é âncora. Pendendo no ar ela fica, com o cabelo assim nos olhos parece a última, a que me deixará num deserto cavando o seu corpo em areia movediça.

- Um dia você me leva para dentro dessa concha? Um mergulho, é o que dizem, para tirar uma foto com o mesmo sorriso. Eu em teus braços segurando o meu chapéu.

E brinca de pescar o meu silêncio. A música da rádio na minha voz embaraça em sua língua embriagada. Interrompe para pedir que eu não vá embora, não queria sentir o que a mocinha das oito sentia, mas que seu amor morte causava se a abandonasse mais uma vez. Pulseira falsa no braço usaria, vestido vermelho e de casa em casa o pão pediria para que alimentada dançasse pelas ruas o seu drama. Até então buscava equilibrar sua proa nesse estado líquido dos dias, mas por pouco enlouqueceria, beijaria o primeiro virgem com lábios de quem pouco beijou e com arame farpado não deixaria que lhe trouxessem estrias, futuras varizes.

Bocejos. Farol alto clareando os buracos. Eu desvio de mendigos e velhas prostitutas. Querendo passar por cima, bato na lata de lixo, podridão no parabrisa. Vou subindo as escadas com a voz dela repetindo na minha cabeça. Desamarro as botas pretas. Imagens dessintonizadas percorrem paredes brancas. Murmuram no corredor. Desavisado, pedia para viver na mão do médico, dizem que nasceu morto. Flor para quê? Para murchar no vaso próximo da janela feito a vizinha da frente, nem sol ali bate, das flores não restam fósseis, nem perfume, são breves e por serem belas morrem secas.

Minha carne aqui está para ser devorada. Amaciada nos dentes desses, digerida pela fúria. Adestrados eles avançam. Tomam conta do meu corpo, estou em todos os cantos, jogado, despedaçado em lascas, soterrado num buraco morno, no canto mais fundo da ilha sou guardado, reservado para mais tarde. É quando anoitece e me chutam para fora. Caminho em migalhas, debaixo da lua que não acolhe mas oferta a solidão dos merecidos.

Renata me acorda com a concha no ouvido. Disse rindo que prenderia o meu sonho para me ver mais de perto. Desanuvia, Renata. Ela ri mais alto. Chacoalhando as pulseiras na frente da cama. Ou era ela ou era essa imagem para sempre grudada no meu travesseiro. Desmonta-se em quebra cabeça, peça e menos peças. Espuma o canto da boca dizendo que limpou o meu parabrisa Não volta mais, meu amor, a atropelar latas de lixo, eu estou aqui para você passar por cima.

Ela ia ao banheiro quando a peguei pelo braço e disse que iríamos. Assustada, disse que escovaria os dentes primeiro. Não há tempo para se perder com dentes. Meu coração está aonde você os perdeu, querido. Aguardo. Segurei firme o seu braço enquanto descíamos a escada de incêndio sem ela entender o desatino. Paramos em frente o carro limpo, disse que começaríamos a nossa história longe da fina retina desses olhos cheios de esperança. Quem passará por cima de nós? Até o último dia da minha vida, que seja breve.

- Morro primeiro.

Acelero e estamos a 200 milhas. Não há ponto que segure ou mar que abre. Você segura o seu chapéu atrás de óculos escuros fazendo com a boca um solo de piano. E sorri.

- Você fez da minha vida um pleno naufrágio. Amor, estamos afundando juntos.

- Desanuvia, Renata.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Madrugada

Ela nunca escreve nada sobre mim. Que agonia meu Deus! Faz mais de uma semana que estou acordado; e ninguém me diz nada! Ainda mais eu estando cru! Minha querida esquizofrênica. Eu tirava partido disso. Sabia que tinha o poder. Cuspia o amor... Que coisa mais enigmática. Presa dentro de uma cela de dentes. Seu suspiro apaixonado me atomizou. E até meus olhos sorriam de prazer. Te dedico todo o meu vocabulário. E ela sempre vai embora (sempre às 9 horas). E os meus castelos... Um a um eu os deixo cair. Tanta confusão só para eu parecer limpo. Totalmente dissecado, só assim você vê como eu me sinto? Meu anjo de cal. Os olhos. O sorriso. O cheiro de chuva. Seu corpo, as curvas. A tradução. A mais amada. Um não, eterno e tenso. Meu vazio imenso. Te mordo como quem beija. Sentia sua falta. Peguei um táxi em disparada. 4 caras 7 tiros. Dormi no banco traseiro de um Chevette sobre estilhaços de vidro. O que ele tem? Tão novo, sempre triste. Os meus males ninguém adivinha. Minha dor não cabe, não fala nem vive sozinha. Me quebrei em milhões de cacos em um sonho. E fui levado ao hospício aos gritos no canto de uma carroça. E hoje sou apenas fezes e entulho. Apesar de alguns esforços totalmente estéreis para eu voltar a pensar... Eu acabei assimilando perfeitamente a personalidade de um cão drogado. E na fase mais sombria da ressaca eu estava mais fodido que nunca. A comédia prosseguia a cada noite... Sem progresso algum. E eu me servia dessa depressão como um porco se serve de lavagem, mas como se ela tivesse seios que eu pudesse amassar, morder a boca e lamber o traseiro... Era algo sexual. E nesse labirinto cheio de armadilhas eu poderia testar minha capacidade ao sofrimento e estudar a progressão da minha doença. E ela nunca escreve nada sobre mim. Mas e capaz da maior compreensão. Branca com o olhar mais lindo do mundo. É só por ela que agito meu coração.

Ps1: Não é (só) uma péssima edição, o texto é desconexo mesmo. Além de ser velho.


Frase Laranja da sexta-feira:
"Comer é uma necessidade do estômago; beber é uma necessidade da alma"
Victor Hugo

domingo, 11 de abril de 2010

Felicidade Peculiar


A fauna do recinto é adorável: moscas, ratos, baratas, e urubus
A todo momento, mais carregamentos de sujeira chegam até mim:
Defuntos, inutilidades, comida estragada, lixo tóxico, dejetos humanos

Eu tenho meu rosto coberto de bosta
Todos os meus buracos estão entupidos com sujeira
Meu cabelo está melecado de esgoto podre
Minha genitália está irreconhecível em meio ao vômito
O cheiro do quarto é capaz de enojar os mais bravamente nojentos
Meu corpo parece um grande bolo fecal, olhando de perto
É possível que eu esteja me transformando em fezes

Os meus gritos são da mais intensa alegria
.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mulher II

Fechava a janela e buscava o chinelo para eu não pisar no chão gelado... Tinha medo de que eu ficasse gripado. No quarto onde a cama, os lençóis, a parede... Tudo era manchado de amor, a gente se amava e suava e se enrolava.

Dizia para eu me cuidar, beber menos, parar de me tatuar e tomar os remédios só na hora certa... Eu sorria, fugia para a cidade. Voltava brincando e embaraçando a visão, fedendo a samba e sarjeta. Eu perdia um pouco dela sempre que eu fazia isso.

Dizia para eu tomar cuidado, me tatuar menos, parar de tomar remédios e beber só na hora certa... Ela chorosa forçou um sorriso e sumiu na cidade. Eu fiquei arrasado e bebi três dias sem parar. Eu perdi minha melhor parte nesse dia.

Ela era a única que enxergava através de mim, e hoje a gente nem se fala.




A Frase Laranja da sexta-feira:
"O álcool não consola, não preenche os vazios psicológicos, mas supre a ausência de Deus. Não compensa o homem. Pelo contrário, anima a sua loucura, transporta-o a regiões supremas onde é mestre do seu próprio destino"
Marguerite Duras

domingo, 4 de abril de 2010

Poema da Puta


Olha só
Olha lá
Que puta

Oh Deus
Mas como ela é
Uma puta

Voz de galinha
Cara de vaca
Jeito de piranha
Ela é uma puta

Ela move as pernas
São feias e escrotas
Parecem troncos estragados
Que nem a cara da dona

Ela move o cu
Exibe o seu buraco
Ela gosta que olhem
E enfiem a piroca

Voz de galinha
Cara de vaca
Jeito de piranha
Ela é uma puta

Ela mostra as tetas
Com os bicos bem duros
Ela aperta com os dedos
E geme esganiçado

Ela mostra a buceta
Sua vulva peluda
A vagina arregaçada
Só não fede como a bunda
.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Chimbal

Cido segue são
Saúde de soprano
Cido sempre mente
Seu circo desumano
Cido cede à sede
A sede de ter medo
Cido cego segue
A sina do segredo
Sempre só um salmo
Um salmo tão medonho
Cido sente o som
O sino dessa cela
Cido tem um dom
Que nunca se revela
Acha que tem sorte
Em pedras e espinhos
Cido cede cedo
À essa garrafa de vinho