domingo, 17 de janeiro de 2010

Manoel, Se Hoje Fosse Amanhã

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Estava sentado num bar.
Bebia.
Sozinho.

Já havia perdido a conta de quantas
Cervejas
Vodkas
Martinis
Vinhos
Tequilas
Havia tomado naquele dia.

Foi aí que ele apareceu.
Chegou navegando dentro da tempestade que boiava em cima do olho de um sapo.

Não entendi direito aquilo, mas como estava embriagado, aceitei prontamente a visão.

-E aí, cara!!! Bora entornar!!!!!! - eu disse virando uma vodka na minha cabeça.
-O rio que entorna os meus passarinhos só conhece o lado besouro do dia.
-Oi?
-Quando o verbo sai da minha boca, se entorta e vira lua ao meio dia escuro.
-Não estou entendendo aonde quer chegar.
-No meio da mania de menino, de riacho mole e vontade azul das minhas pernas.
-Garçom, desce mais um aqui pro meu amigo... qual teu nome?
-Manoel de Barros. Mas eu não bebo, quem bebe é o vidro do quintal, no dia das lamentações, em dia de chuva futura.
-Tu ta bem, cara?? Tu só fala umas paradas estranhas!!!
-Estranho é quando um peixe, que se encontra numa casca, aparece no meio do breu, enfezado que nem unha.
-...
-Mas é como sempre digo: Da fronteira do pé, não passam as capivaras da hora sem cor.
-Saquei.

Depois que divagou sobre todas as coisas que não existem, mas que vão sempre continuar a existir, não consegui mais prestar atenção no que ele falava, nesse verbo andorinha da cor de grilo encorpado.

Foi então que as imagens começaram a ficar embaçadas. Apareceu um cara dizendo que se hoje fosse amanhã, eu estaria ali. Ele apontou pro outro lado do bar, e lá estava eu, com umas pessoas estranhas:
-Bora entornar, bródi!!!! Uhulllll!!!! - o eu do outro lado do bar dizia pros que me cercavam.
-Não entornarei esta água turva, mais que escura, azul o cavalo, azul teu cu.
-Nem eu, ainda não entendi quando minha mãe morreu, se foi hoje ou ontem. Talvez seja o sol.
-Ah, não sei, Sara!!! Todos vão dizer que sempre fui um louco, um romântico, um anarq... Sara?
-A Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol entornaria se estivesse com o Empresário Bem Sucedido De Gravata Azul De Listras Laranjas.
-Antes de mais nada, tudo.

Então o Manoel deu uma voadora na mão que apontava do Lynch, quebrando o encanto hipnótico. O Lynch deu um ataque, enquanto ajeitava o topete, dizendo umas coisas que se colocadas na ordem certa fariam algum sentido.

Depois disso não me lembro de mais nada. Acordei do lado de fora do bar, já claro, com o corpo vomitado. Lavantei-me ainda cambaleando, e caí no meio da rua. Um carro passou muito rápido e cortou minha cabeça fora. Alguns minutos depois consegui me levantar novamente e caminhei sem rumo, afinal, não podia ver pra onde estava indo. Mas...


-É por isso que não compro livros de autores novos desconhecidos, nada faz sentido - ele disse enquanto comia os restos de minha cabeça esmagada.

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