sexta-feira, 14 de maio de 2010

Eu, pinguim

Eu estava com 40 anos e fodido. Sempre quis exercer uma atividade artística, por anos tentei pintar, escrever ou fazer musica; depois tentei só escrever... Por ser menos cansativo. Mas eu era muito ruim, sério... As coisas não tinham nexo, sentimento, a semântica cara... Era um problema.
A tentativa de me tornar escritor, aliado com a minha alergia ao trabalho... Tornou-me um completo vagabundo. Eu não conseguia escrever nada que pudesse ser lido e eu gostava de beber. Nisso eu era bom, as pessoas paravam para me ver beber, aí eu tentava vender um livro:
“Ola, você gosta de poesia?”
“Saí fora, seu chupa pica!”
Eu não tinha dinheiro, e a bebida mais barata era uma pinga a base de alho, trinta centavos o copo americano cheio! Consegui pagar três, um outro vagabundo pagou mais duas para mim.
Eu tinha pirado e me mijei.
Estava suado e tremendo. Cachaça maldita! Fui rastejando pela região do Anhangabaú, e entrei em uma caixa de papelão que estava na rua (era enorme! Deve ser de geladeira, ou coisa assim). Eu estava tentando respirar, mas eu estava suando e morrendo de sede. O sono apertou, senti um cachorro mordendo minha perna e alguém chutando a caixa e mandando eu sair. Eu não conseguia responder, e o sono estava incontrolável.
Acordei com uma vagina enorme me cuspindo. Não, foi uma cesariana. Eu estava nascendo da ferida de uma mulher que eu amava e isso me fazia chorar com toda raiva do mundo. Eu tinha virado um poeta!
Eu nunca pensei que a gente reencarnasse imediatamente, foi tudo num piscar de olhos. A minha vida ia ser melhor, eu estava louco para escrever... Eu tinha sentimento, eu transpirava isso do meu corpo pequeno e enrugado. Por falar em corpo, eu nasci com um pênis normal, mas meu saco era enorme e roxo. Essa não era a única deformidade, eu nasci sem pernas, meus pés estavam na cintura e meus braços eram curtos demais, eu parecia um pingüim sacudo. Quando eu percebi isso chorei por três dias sem parar.
Enquanto eu era um bebe foi tudo bem, aprendi a escrever com quatro anos, eu era um gênio! Mas quando eu comecei a andar, Jesus Cristo! Meu saco arrastando no chão áspero, me tornando eunuco passo a passo. Era pior quando eu tropeçava no saco, eu chutava meu próprio ovo e caia de cara no chão.
Aos quinze eu publiquei meu primeiro livro, e vendeu muito bem. Mas eu não saia da cama, meu saco era cheio de feridas e meus bagos estavam me matando.
Eu nunca consegui chegar à conclusão de qual coisa é pior: ser um fracassado sem talento que não consegue andar de tão bêbado ou ser um gênio pingüim que pisa no saco a cada passo que tenta dar.

Frase em Laranja da sexta feira:
"Se quiser trapar, vá à faculdade. Mas se quiser aprender alguma coisa, vá à biblioteca"
Frank Zappa

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