quinta-feira, 6 de maio de 2010

O coração de sábado à noite, um

Dessas que só levam uma semana.

Arrastei a bunda pra fora da cama, quase que rolo pelo chão, oh meu deus, mal consigo me apoiar nas duas pernas ultimamente, onde foi que me quebrei tanto para acordar dormente tantos dias seguidos, sinto as vias respiratórias se fechando, mas tudo isso não é doença, é apenas azar - algumas pessoas tem um sistema imunológico azarado, e músculos azarados, e o que mais for, hora de tomar café, perdi a hora mais uma vez, hora de quê, não tenho tido muito o que fazer esses dias

Tomar café, sentir a fumaça correndo solta através das vias respiratórias que agora abriram e ventam como um dragão raivoso, tossindo a cada gole de café, ver o movimento lá embaixo, a uma distância segura, por que nós vivemos assim, não é mesmo, acordando fazendo o possível para expulsar tudo o que acumulamos dormindo, por que não passamos a vida dormindo, sim, é uma idéia idiota, pseudo-filosofia e teoria de bar, e olha que eu nem comecei a beber ainda, é a vida

Descer as escadas, por que o elevador não funciona mais, estou reclamando feito um velho, talvez deva comprar cuecas maiores, já pensou, talvez a grande maioria dos problemas da humanidade sejam as roupas de baixo curtas, bolas apertadas e pessoas arrasadas, cerveja quente e mulheres geladas, perdi o ritmo, perdi o degrau, meu quadril foi parar no peito, qual é meu problema? O sono definitivamente está corroendo meu ser

Hoje realmente tem tudo para ser um dia superficial, mais uma vez, escorregando, topando, fazendo careta, tossindo, enfim, nada fora do usual,

No bar,

- Fala, família

Opa, como vai, hora da primeira cerveja do dia, dane-se se eu acabei de acordar, já é quase de tarde, já é quase hora de almoçar, não tenho patrão, só tenho dívida, tenho um escritório e talvez minha secretária resolva me botar no olho da rua, quantos olhares raivosos, coçando o saco, cevada deslizando pela garganta, que me conta, ah, se eu fosse contar tudo, se eu fosse contar os mínimos detalhes, que eu perdi a hora, que acordo com tudo doendo, onde foi que eu me quebrei todo, acho que esse excesso de incômodo às vezes te tira a noção da realidade, Houston, estamos perdendo perspectiva...

Trabalho finalmente, ela me deseja bom dia, eu desejo boa tarde, me jogo na cadeira, encho mais um copo de café, lá vou eu acender mais um cigarro, e lá vem o celular tocar estupidamente alto, não é minha hora de cochilo, mas eu não acabei de acordar, acho que estou muito centrado em mim mesmo, jogo o celular para ela atender, olho para a gaveta, penso quantas balas os próximos dias cobrarão, estalo um dedo por um, olho para o meu bolso, vejo meu maço de cigarros

Desses que só duram algumas horas.

(e continua)

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