quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Novela III

Badinbed estava na lama. Apesar da rotina quase constante de ser deixado. Ele estava na lama. Disse que tinha que sair para espairecer e me chamou para ir junto. Eu não estava a fim de ir e disse que só tinha o dinheiro do aluguel. Ele disse me bancava. Eu fui para beber de graça. Chamou também a garota gostosa que não me dirigiu o olhar na festa do dia anterior. E ela levaria suas amigas junto. Ele disse que sentia sua sorte melhorando. Eu disse “há”.Chegamos a um daqueles lugares da rua Augusta. Acho que era o Inferno ou o Studio. Tomei primeira cerveja. Lembrei que o Edivaldo que pagaria então pedi outra... Agora uma Heineken, boa cerveja. O nome da menina gostosa era Eva, achei apropriado. Ela havia levado mais duas amigas... Uma sem sal, a outra tinha umas pernas que pelamordedeus... Mas tinha cara de boxeador aposentado. Tinha mãos e queixo de lenhador. E junto com elas havia um cara que tinha a língua presa. Eles estavam na mesa conversando sobre comida, acho que nenhum deles comia carne... Sei lá. Uma delas começou um discurso sobre as vantagens da dieta a base de verduras e vegetais, que comer carne era errado e que ela gostava de chuchu. Perguntou o que eu achava provavelmente para eu me envolver na conversa. “Não gosto de chuchu, é só água... o quarto estado físico da água é o chuchu”, então a mesa se calou. Bad riu, mas as outras quatro pessoas ficaram me encarando. Levantei para pegar outra cerveja e uma dose de tequila, eu estava de chinelo... (de barba pra fazer, camiseta velha e amarrotada, jeans gasto da barra rasgada) o cara da língua presa (que vou chamar de CLP a partir de agora) disse em tom de piada:_ Você tem coragem de sair de casa usando chinelo?_ É, saudades de Paris._ Sério? Lá usam muito chinelo?_ Não, Lá ninguém se mete na vida de ninguém.Então saí, Bad riu de novo... Eva sorriu.Estava no balcão e Eva foi pegar alguma coisa para beber. E começou a falar, pela primeira vez comigo. Tinha o cabelo curto preto e todo o brilho da cidade nos olhos. Quase queimei os olhos. Ela me disse “oi” e eu pedi duas tequilas. Perguntei se todo mundo estava falando mal de mim na mesa. Ela disse que não._ Você não é muito de conversar, não? - disse ela._ Não. – Disse enquanto lambia o sal._ Tá tentando esconder alguma coisa? Ou você é meio chato mesmo?_ Há - sorri amarelo -, acho que as pessoas me amam mais quando me conhecem menos. – respondi tomando a tequila.Ela riu de novo. Perguntei se ela queria beber algo. Pediu um Apple Martini... Eu achei super adequado. Eva, maçã... Parecia piada. E eu até ri. Pela primeira vez em um bom tempo.Eva tinha 20 anos, era sustentada pelos pais. Já tinha namorado com um cara, mas quando ele tentara parar com o cigarro se tornou chato demais e ela o largou. Sabia falar três línguas diferentes, viajava para a Europa todo o ano e não gostava de cerveja.Eu disse a ela que tinha 24 anos, gostava de escrever e não sabia andar de bicicleta. Não tomava café da manhã, preferia o Rodrigo Amarante ao Marcelo Camelo, tinha sorte no baralho, gostava de cerveja e nunca dormia bem.O show não havia começado, não lembro o nome da banda. Não estava muito interessado pela banda e ela também não... E como o assunto havia acabado a gente acabou se beijando. Não durou mais que três minutos... Ela terminou o beijo e subiu sem falar nada. Nem tentei entender... Peguei outra tequila de doze reais e mais duas cervejas long-neck de quatro e cinqüenta e fui para a mesa. Ela sentou no outro lado com a amiga sem sal e o CLP. Eu sentei com o Bad e a outra amiga/lenhadora... Bad tava se atracando com ela. Ainda bem que eles estavam ficando... Se estivessem lutando ele não teria chance.De repente vi que o lugar tinha garçons! E eu andando por aí igual um macaco! Pedi mais três cervejas. E me mantive sentado. Eva foi ao banheiro e na volta sentou do meu lado. Ergui o braço vitorioso e pousei no ombro esbelto dela.Edivaldo me chamou e disse que a lenhadora tinha convidado ele pra ir para casa com ela e que ele ia embora. Como ele tinha que pagar minha comanda disse que ia também. Então todo mundo resolveu fechar e sair do lugar. Só a minha comanda tinha dado oitenta e dois reais. Mas Badinbed estava feliz e colocou tudo no cartão.Bad foi embora com a boxeadora. Os outros –inclusive eu- paramos no bar da frente... Mas pouco tempo depois o CLP disse que ia embora e ofereceu carona para as garotas... Eva recusou, a sem sal topou e os dois saíram de lá. Chamei Eva para ir para o meu apartamento, lá tinha cerveja e vinho e no bar tava fazendo um frio dos infernos.Lá tudo correu de forma tão natural que eu nem consigo explicar. Eu via a vontade no rosto dela, ela tremia de amor... E nem que só durasse aquela noite era amor denso... Dava para sentir no ar. Os cabelos, os seios, os gemidos, o corpo inteiro em sintonia... os olhos dela colocavam fogo na casa inteira.A noite estava acabando e estava ficando cada vez mais claro. Ainda estava frio... e nós dois estávamos na cama do Bad – já que eu não tinha uma -. Ela se vestiu, passou batom, sorriu e limpou o excesso na minha camiseta. Me jogou um beijo de longe o foi embora. A noite tinha acabado e eu não podia fazer nada.


Frase Laranja da Quarta Feira:
"Ele me disse assim: "Ei, vocês cantam sobre cães, sobre estar doente, vocês têm uma pegada, isso vai levá-los ao topo". E ele, basicamente, ensinou para a gente cinco acordes, mas disse para não usarmos mais de três por música."
Mark Arm, vocalista do Mudhoney, sobre o dono da Sub Pop

3 comentários:

  1. Acho língua presa um charmão, sério.
    "O quarto estado físico da água é chuchu" HAHAHAHAHAHAHAHA, chuchu é um nojo.

    Tremia de amor por que te conhecia pouco?
    A gente não tem muito que fazer sobre muita coisa que envolve seres humanos mesmo..

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  2. Muito bom o blog de vocês, gostaria que você fossem conhecer o meu www.odeliriodabruxa.blogspot.com
    Um beijo
    Denise

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  3. Ahahaahh é engrçado ver leitores e telespectadores darem opniões. MUITO engraçado.

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