quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sophia: Leite Condensado e Folia

Carnaval é uma das piores épocas do ano, acho que empata com as festas natalinas. Em 1998 eu tentava fugir da multidão, dos convites para bares, dos desfiles e das mulheres sem calcinha. Eu queria um fim de semana tranqüilo. Queria comer uma lasanha e tomar tubaína. Eu queria e lutaria pela paz do meu fim de semana de carnaval. Mas primeiro eu tinha que ir ao mercado.
E foi no mercado que eu a conheci, ela estava tentando pegar uma garrafa de rum na prateleira mais alta. Vestia uma saia curta e justa que subia todas as vezes que ela se esticava na tentativa de alcançar a garrafa. Me pediu ajuda. Eu ajudei.
Sophia tinha 1,60 de altura, cabelo liso um pouco abaixo dos ombros, falava gesticulando, sorria demais e tinha o olhar de gente maluca. Ela começou a puxar assunto e eu fui idiota o bastante para levar a conversa adiante. Até que ela disse que estava comprando o rum para levar na casa de uns amigos que iriam assistir o desfile pela televisão. Eu havia comentado sobre a minha idéia de carnaval pacifico, acho que ela me achou solitário e talvez por pena tenha me convidado. Eu não queria ir e eu disse que não ia.
_ Você é crente? – Ela perguntou.
_ Não.
_ É comunista?
_ Porra, não! Os comunistas têm algo contra o carnaval?
_ Não sei, perguntei por causa da sua barba e da camisa vermelha. E porque você não quer ir então? Tu é bicha? Tem medo de mulher? Qual é a sua afinal?
_ Só quero ficar na MINHA casa e comer a MINHA lasanha, mas que inferno!
_ Acho que você é capado. Tu deve ser algum tipo de eunuco. – A essa altura da discussão nós dois já estávamos aos gritos.
_ Me deixa em paz!!!
_ Deixa de frescura e vai nessa merda!
_ Tá bom! Mas que diabos...
Ela sorriu e perguntou meu nome. Marcamos de nos encontrar no mercado as nove horas. Ela se atrasou vinte minutos, eu comi um pacotinho de amendoim enquanto esperava. Ela chegou, estava bonita e cheirosa. Mesmo pintados, os olhos ainda possuíam certa insanidade.
A tal casa dos amigos estava cheia, umas trinta pessoas. Estava cheia de churrasco e cerveja. Sophia sumiu e eu não conhecia ninguém. Na verdade eu não conhecia nem a Sophia. Eu estava andando de um lado para o outro segurando uma latinha de cerveja. Estava mais perdido que um cego num quarto escuro procurando um gato preto que nem estava lá.
Achei um lugar para sentar, em frente a TV. Faltava dez minutos para a meia noite e a Camisa Verde e Branco ia entrar na avenida. Os palmeirenses vibraram, eu levantei e saí.
Sophia estava no quintal, encostada no muro e segurando um copo de mojito. Um cara visivelmente bêbado estava falando perto do ouvido dela e ela parecia muito incomodada. Ela me dirigiu um olhar então me aproximei. Ela me apresentou como o namorado dela e me deu um beijo sem língua. O cara olhou meio estranho e saiu de perto.
Ela me agradeceu e começou a falar de mil assuntos ao mesmo tempo. Alguns minutos depois, me pediu para pegar outro mojito para ela. Quando eu voltei o cara estava lá novamente. Eu não sou o tipo briguento, apesar da barba, do queixo quadrado e da pele vermelha de herói de velho oeste.
Cheguei perto dela, coloquei meu braço no ombro dela e disse:
_ Escuta cara, porque você ta embaçando aqui ainda se tu tá sabendo que ela ta comigo?
_ Você não faz diferença, se ela der mole eu cato mesmo! – respondeu o bebum.
Porra, eu não posso deixar o cara me zuar na frente de uma mulher que eu mal conheço. Ainda mais se ela for a única pessoa que me conhece em um lugar estranho. Então eu empurrei o cara com toda a força para ele cair no chão e chutei ele na altura dos ombros. Foi tudo muito bonito mas nem tinha sido para machucar. Ele se levantou e ameaçou uma reação.
_ Se você der mais um passo eu vou socar sua boca com tanta força que você vai começar a falar pelo cú! – Eu disse alto, cuspindo e com as sobrancelhas franzidas.
Ele recuou. Sophia se impressionou, mas o comentário da suposta briga já estava se espalhando e ela resolveu ir embora. Me chamou para terminar de ver o desfile na sua casa. Chegando lá começamos bebendo cerveja, depois bebemos rum e no fim da noite lambemos leite condensado do corpo um do outro.
Passei mais três carnavais horríveis com Sophia, mas mesmo depois dela ter ido embora... Eu nunca consegui ter um carnaval tranqüilo com lasanha e tubaína.


Frase Laranja da Quarta Feira:
"Não existe gol feio. Feio é não fazer gol"
Dada Maravilha

3 comentários:

  1. Queria tanto um carnaval legal assim, longe dos bailinhos e dos blocos, dos trios e dos abadás!

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  2. Acabei de ler isso em algum lugar... Foi agorinha... Num lembro!

    Eu disse:
    "kkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Que texto massa rapaz!!"

    Eu axo...

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  3. ACHEII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    http://bossanovacontorcionista.blogspot.com


    Descuple...Vou ali cortar os pulsos.

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