sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Giz

Pensava com os olhos presos ao fundo do copo, o uísque quase no final, gelo derretido, lágrimas salgadas adoçando os lábios e manchando o balcão. Depois de um ano, ainda era possível sentir as mãos dele procurando algum lugar no corpo dela. Sentia-se patética ali, chorando por alguém que provavelmente naquele horário estaria numa cama confortavelmente trepando com outra mulher enquanto o casal protagonista da novela trocam aquelas juras de amor mais do que eternas. Mas ninguém sabe o que acontece depois do final feliz. Precisava de um ínicio e inícios dependiam de um fim. O dela era estar ali, comemorando um ano, olhando para o dedo com a marca imaginária de uma aliança, que apertava e doía nesses dias em que ela se deparava com a solidão de uma cama vazia.

O dedo girava dentro do copo vazio, brincando com o único cubo de gelo que sobrara quando ele se sentou ao seu lado, perfume de homem recém lavado e puro de qualquer pecado, fingindo muito bem que não notara as suas pernas bem torneadas de mulher feita que sabia usá-las com crueldade numa cama. Sorriram, os dentes dela, amarelo de anos que fazia questão de jamais ocultá-los, muitos tratamentos para que branqueassem mas no final, ela era fraca demais para o café que ele lhe trazia na sua cama e deixava o dia todo na garrafa térmica, a maneira dela de sempre estar com o gosto dele em sua boca salivando por um cigarro, acompanhante ideal; os dentes dele, de rapaz que usou por muito tempo aparelho e agora quer sorrir para todas as mulheres sem medo de denunciar a idade, que não era assim tão pouca, seus quase 24 anos, na lata. Assim, em como todos os bares onde uma mulher atraente e sozinha bebe uísque nacional ao lado de um rapaz jovial com muitos planos na cabeça mas nenhuma companhia, a história havia de seguir o roteiro original de conversas e desabafos do tipo"Hoje faz 1 ano da minha separação, foi muito fácil entende? Só precisamos assinar alguns papéis e éramos novamente livres para transar com qualquer outra pessoa. Não sinto falta dele, sabe, eu não lembro nem porque a gente se casou. Somos bons amigos, parceiros de truco ás vezes" " Não penso em me casar, sei lá, isso de ficar preso por pápeis, acorrentado pelo pé por uma aliança. Nem tenho idade prá isso, tenho? Quero só curtir a vida, conhecer mulheres como você" "Tá afim de ir lá em casa? Tem bebida e é de graça. E tem a minha companhia, a gente podia conversar mais sobre isso."

Mas não conversaram. Os dedos dele já foram procurando os botões da camisa dela e tão de repente, seus lábios mordiscavam os seios fartos dela, que controlavam seus dedos para não invadirem a calça dele, as unhas quase quebradas sobre o zíper semi aberto. Tentou beijá-la, mas não permitiu que ele a invadisse dessa maneira, tinha seu corpo a disposição de suaves e bruscas invasões, mas que não tocassem nos lábios que outrora foram de outro. Queria ainda ter o sabor de café da manhã, mesmo que muito tênue, em seus lábios. Única lembrança que lhe restara, as fotos foram picadas e queimadas numa típica atitude de mulher de meia idade infantil. Que ele se satisfazesse com os outros lábios.

Sorriram novamente. O dele um sorriso de agradecimento, o dela, satisfação.
Correu até a cozinha e brindou solitária por um ano. A geladeira refletia algo do seu corpo todo vermelho e suado. Sentiu-se orgulhosa, cada marquinha um troféu de consolação. E porque não, ligar e desejar que ele tivesse uma comemoração igualmente satisfatória?

Mas já passara da meia noite, não havia muito o que comemorar além de um garotão estendido na sua cama, gabando-se pelo feito de 5 vezes numa noite só. Expulsou-o da cama, com a promessa de que sua casa estaria sempre de portas abertas e sua cama sempre vazia. Mais um sorriso, desajeitado o dele, que nem sabia o nome dela, falso o dela, tudo mentira o que falara, queria ficar sozinha e dormir. Esquecer que gritou aquele nome, o dos convites de um casamento desfeito a um ano e que ninguém mais se lembrava que um dia existiu, só ela, com aquele orgulho ferido e fatiado, de noivinha largada ao pé do altar. Mulher esquecida e tragada nos lençóis doados ao exército da Salvação. Prometeu, como promete todos os anos que iria começar uma dieta e largar os cigarros na próxima semana, que amanhã esqueceria tudo o que se passara e começaria novamente, qualquer coisa que fosse. Já escrevera um final, não muito feliz, não muito convicente. Ótimo para um best-seller de bolso.


Acordou, e os dias estavam grudados no passado.
Escritos em giz.


(baseado em chão de giz, zé ramalho)

7 comentários:

  1. desenhadas em giz
    frutas macias numa
    natureza morta.

    -

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  2. Aqui o se7e/5 vai oferecer-lhe um comentário útil e não essa merdice de favor que essa gentinha espalha por aí. Será que você merece? É uma dúvida fodida, mas, aqui o se7e/5 vai mudar seu pensamento, vai ativar seu cérebro. Se não sentir qualquer mudança, é porque seus últimos neurônios já eram.
    Muito lindinho, mas inconsequente. Sem aquela profundidade útil. Apenas mais do mesmo. Aqui o se7e/5, vai mais longe, pretende espicaçar vossos neurônios preguiçosos. Aqui o se7e/5, vai mais longe, pretende espicaçar vossos neurônios preguiçosos. Abrir vossa fé de alto abaixo. Obrigar-vos a revelar o que de muito útil existe em você, caro lindão. A lindona também não é de deitar fora; muito lindinha mesmo. Bem, mas vamos ao que interessa:

    “A cultura é uma merda cansativa. Ter de saber tudo ou, pelo menos, mais do que os outros, não deixar cair a “pena”, manter a noção do texto corrigido antes de o escrever. Estar permanente sóbrio num estado de embriaguez, quando apetece vomitar sobre os intelectuais de novela da hora nobre. E em nós também. Por que não suportar propostas políticas aliciantes, intelectuais e corrupção?
    Ao serviço do poder, do partido, dos lados ou das cores; qualquer desculpa serve o propósito. E a cultura é apátrida! E conservar a imagem de personalidade do ano, como tias “estafermadas” sem corpo, sem neurônios, sem vergonha na plástica e a cultura que se foda! Estes intelectuais transpiram diferença e indiferença, inspiram o oxigênio do euros, dólares e reais e a expiração tem o curto prazo de um governo eleito. Sem tempo para respirar, porque a cultura é asfixiante , porque ler um livro não basta, nem milhões de livros garantem uma cultura de se lhe tirar o chapéu. Uma chapelada. Não há tempo para respirar cultura! Apenas se aguarda uma cajadada no lombo porque o pastor se aproxima para escolher uma ovelha ranhosa para o sacrifício. As ovelhas ranhosas são perigosas, tal como as ovelhas brancas em rebanhos de ovelhas negras. As negras também se abatem mas, antes da prática carniceira, são discriminadas.
    Não há ovelhas negras em governos Brasileiros. Talvez haja. Jogados a um canto escuro a coberto da noite, onde permanecem até a aparição servir uma conveniência branca. Tal como qualquer outro rebanho. Tal como as tias e descrentes que se movem em espaços virtuais, pastando como ovelhas negras, frequentando círculos próprios onde se isolam em divagações de alta sociedade, cuspindo disparates que os fazem dormir mal e acordar pior.
    A cultura do sec.XXI é uma mescla de economia global, política dominante e apropriação intelectual ao serviço da proliferação da miséria e sofrimento, como factores de revitalização permanente dos esgotamentos evolutivos periódicos. Correr sem sair do lugar. O conhecimento corrompido, a cultura de almanaque, jornal desportivo e leitura alcoviteira do jet-set, remete para o conhecimento desenraizado do progresso democrático sob a égide de um Estado de Direito, mas sem qualquer ética como regra.
    O fantoche intelectual é uma realidade que descansa na palma da mão e se equilibra no dedo acusador dos oportunistas sem escrúpulos, os poderosos, com objectivos de domínio global. A força dos dedos médios em riste, firmes. São estes fantoches que anestesiam e embalam as massas, mantendo-as desfocadas da realidade. Quando a dor se revela, esses intelectuais “blogosferam-se”; fogem para a lixeira inconsequente dos desabafos indignos.”

    Isto é a BLOGOSFERA, na qual todos vós chafurdais, como porcos num chiqueiro. Se aqui o se7e/5 estiver errado, provem!

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  3. Uai... fantástico texto... adorei o blog.. Parabéns!
    Desce mais uma por favor!

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  4. Ó, Deus, o que foi esse comentário aqui em cima...

    Não conheço a música, mas gostei do texto.

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  5. Esse se7e/5 é algum tipo de comunista sindicalista canhoto? Ou é só um cabação?

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  6. Ai, que coisa mais triste.

    Esse se7r/5 além de babaca, copia e cola o mesmo texto em todo blog, UAHSODHSADHUAI

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