sexta-feira, 26 de março de 2010

Duas Mãos


Arrepios. Não pisco os olhos, respiro convulsivamente e tremo até despedaçar. Me invadiu uma imagem em preto e branco: senti um milhão de espasmos que surgiam com força inextinguível. Um grito brotava e, quase paradoxalmente, todo meu ser explodia numa risada. Atomizei-me num acesso de riso.

Meu calor não te assusta, nem minha luz. É o silencio da minha alma que me condena? O Amor é visceral. Indiferente às diferenças, a incondicionalidade do descontrole - mais uma vez. Uma bruxa em depressão "Toda mulher é uma puta".

São as borboletas flamejantes que se apossam do meu ventre. Um prazer, seguido do meu nome - um pequeno orgasmo interior. “Sou casado comigo. Vivo para mim”. E agora o que eu sinto é somente o que eu faço. Vou me perder novamente.

A verdade é a imaturidade, pseudo morte. Mas nesta manhã sinto real - é tão irreal assim? Calmo e tão excitante, tão extremamente excitante. Calmo e tão puro (e é apenas você). Como poderia ser mentira? “Não quero o seu amor. Não é disso que preciso.”

Vi luzes silhuetar formas de enfermeiras gordas e seus egos emplumados. Unhas de plástico. Brincos de vidro. Enganado... o seu coração que é muito errado. "Contenha-se, e atenha-se ao desejo". O desejo e a raiva, e o desejo é a raiva. Toque-me mais uma vez.

Nos olhamos setenta e duas horas seguidas. Não era exatamente isso que escolhemos. Não é o que queremos? O que digo é exatamente o que eu sinto.

Eu posso ver onde falho, sinto onde dói. Exatamente como você disse: meus lábios só alcançam aonde eu vou. É aqui que fico triste e choro? Ou finjo que me importo? Devia usar a minha “influencia” enquanto a tenho para ir contra a corrente. Contra as idéias. Contra você.

Ele usa camisas de seda e fode uma buceta de cor diferente todo dia. Eu uso a mesma calcinha e camiseta a semanas. Odeia quando falo, e eu falo o tempo todo. Diz que poderá me buscar, mas continua inerte.

"Ela continua fria e não beija meus lábios - não como antes. A chamo de puta e ela não vai embora. Agarra meu colarinho como se a pudesse salvar de algum perigo, que não consigo enxergar. Prometemos muitas coisas e nenhuma vez pensamos que isso poderia ir e voltar, por meses e dias. Penso que um dia nos desejamos, mas ela não entende o meu mundo: diz que eu a enlouqueço, chora e borra a maquiagem. Depois, ainda em prantos, me abraça e me devora, a cada palavra e unha que encosta em mim."

Ele só fazia o que podia, e não podia fazer mais nada. Talvez tentar ajudar com a mente ou o olhar - mas em que isso ajudaria?


“Eu vivia azedando cada vez mais, vomitava de hora em hora e meus dentes estavam da cor de feijão. Ele ia todo dia ao mesmo posto de gasolina... abastecia com a mesma morena da bunda grande. A bunda abastecia seu carro. E ele desejava abastecer a bunda. Chamava isso de cadeia alimentar. Prostituto de merda. Soube que ele pegou sífilis e casou com uma vadia tuberculosa que tinha o pai índio e a mãe alemã. Na base da cocaína e uísque. Depois dos 27 arranjei um emprego, ganhei novos dentes após contar de forma fantasiada minha vida em um programa matinal de radio. Ouvi dizer que ele teve três filhos cegos.”

Ela era de plástico, mas morria todas as noites: era necessário mais de duas horas para que ficasse pronta. Na espera, não pôde mais pode ver. Sinto-me bem - ela diz - mas não vejo mais nada. Não havia qualquer tristeza no que dizia, não havia nem mesmo rancor. Ela apenas não via, e isso não era um grande problema. Talvez pudesse usar melhor agora os ouvidos, os sabores.

"Faz sete dias que não fumo. Faz esse mesmo tempo que não bebo."

Sempre finjo esse sorriso. E isso era triste, tão terrivelmente triste. Meus cães estavam presos e eu estava de olho em mim. Tenho os dois joelhos ralados, me ocupo em tirar a casca da ferida e acompanhar o reinicio da cicatrização. Faz uma semana que não durmo. Olazanpina, ritalina, aspirina, risperidona: meu bloco de receitas secreto, hoje eu sou a rainha da cidade. Vivo com amigos com tatuagens de verdade. Todo mundo conhece um ou dois segredos meus. Todo mundo me conhece, mas não sou de ninguém. Hoje estou com olheiras imperando sobre o resto do meu rosto. Mas amanhã eu serei o bom Deus e soltarei meus cães novamente.

"Maldita vadia idiota. Fala de mais e não sabe de nada. Me conhece menos do que o cigarro que mantém preso entre os dedos - dedos que deveriam ser meus. Grande merda" (escondo o melhor)."

Ele continua imaginando que compreende o mundo e não faz mais nada: só fingir que é quem é já deve ser bastante complicado - usar as mascaras que compra com o dinheiro sujo da venda de drogas e mentiras. Dizem que não vai acordar nunca se continuar andando como um imbecil manco.

Arrepios. Não pisco os olhos, não respiro e tento fingir que nada disso é meu. Um riso brotava, mas me atomizei num grito.


Frase Laranja da sexta feira da semana de provas da faculdade:
"A lei é a única expressão da vontade geral da nação"
Jean-Jacques Rousseau (Jurista Frances)

3 comentários:

  1. É tão bom, tão intenso e tão tesante que nem dá p acreditar que filho nosso ahahahahah
    Vamos fazer isso mais vezes, criança.

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  2. Muito bom ! Nossa, Deu pra sacar um pouco de cada.. e olha que faz tempo que eu não leio coisas suas.

    Mas acho que vocês tem uma linha um pouco semelhante.. ou é besteira minha..

    Sei llá !

    muito bom. adorei o blog

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