sábado, 6 de março de 2010

Laurinha

Deixou-o no canto, perto da escada. Laurinha o calçou e faltaram dedos para preencher, algodão resolve, vermelho verniz, do jeito que sonhou. Desejei por tudo e essa mãe dentes podres unhas encravadas, sovina, o escondia debaixo dos degraus, um tropeço bastaria e o seu corpo ali derrotado, encurvado abaixo do meu, cravo meus saltos em sua pupila úmida. Não! Laurinha vai atrás daquela que com a mão na cintura canta um samba de seu tempo. No banheiro, o batom e o lápis contornando os olhos enrugados, a velha rotina, rouge e leite de rosas, entre as pernas um caldo grosso, junto à privada os remédios para os ossos. Laurinha borra o canto da boca, quando beijada, saiu assim, toda esparramada. Disse que com o lápis preto puxando os olhos, pularia alguns anos, casas de amarelinha, riscos na porta do quarto, e entre as pernas ganharia Gabriel que só se esparrama na cama da mamãe unha encravada, quando ela me diz que ele veio mesmo é trocar a fechadura. Escuta a porta bater e o carro logo ligar, morre, tenta novamente e nada do carro acender, a vaca xinga alguma coisa e retorna para dentro. Laurinha do banheiro vem até o carro trocando as pernas, não se encaixando, fósforo fora da caixa, ela acende um cigarro para provocar. Pés firmes, ela acelera. Diz good bye, cante uma nova canção, olhe como eu danço e como me entorpeço nessa vida crua pus tão sofrida. Escorre sangue de seu nariz intocado. Laurinha olha para o corpo de sua mamãe crânio rachado sem notar que a sua sombra também se foi.


Um comentário:

  1. Leandro,
    gosto das metáforas, elas são insólitas e despertam desconforto.
    Confesso que já li mil vezes esse conto tentando entender essa narrativa.
    Sabe aquela coisa, não eu vou entender agora?!

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