sexta-feira, 11 de junho de 2010

Marrom Van Dick

Acordei todo errado, o fígado em vez do coração. Tinha todos os dedos, mas me faltava tato com as mulheres... Mesmo assim eu tinha e gozava dos desejos alheios. A cabeça tinha um formato estranho, moldado por anos de violino. As suas medidas de miss e o ódio pela cor do céu quando amanhecia devagar. Feita de gesso, os olhos ruins e óculos bonitos. A minha idade começou a avançar. E eu recuo, nem me arrisco. Absurdo, tão humano quanto carne de porco. Vejo com uma nitidez especial, ela investe devagar a fim de evitar os espinhos... Que no começo fazem apenas riscos rosados, mas logo arranham até o sangue. “O que você quer ouvir hoje, querido?” “Qualquer coisa menos Bach”. “Ok, vou colocar Strawinski”. Pornografia e cultura pop, talento indiscutível. É normal querer morrer de vez em quando. Mas cavalos não sobem escada, não adianta tentar mudar. Caso perdido. Ela diz que é toda minha. Fica fácil fugir por entre os dedos se eu tenho você na palma da mão. Eu disse que você é inconstante como o mar. E você é livre para devorar o verão.

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