quinta-feira, 3 de junho de 2010

O coração de sábado à noite, três

Ressaca.

Há um bom tempo que eu não bebia, e há um bom tempo que eu não tinha tempo para me recuperar da maldita, estava em pé, acordado, fumando um cigarro atrás do outro e tomando um café atrás do outro há mais tempo do que eu posso me lembrar, um, dois, três dias, por aí você tira o quanto eu me envolvi naquele caso que eu nem prestei atenção, meu estômago estava embrulhado, já havia perdido três pessoas só naquela semana porque minha mente estava num retrocesso de rapidez e lentidão muito confuso para que eu me atesse a qualquer fato, mas como sempre eu comeria a bunda dos filhos da puta no final, uma vez que nada me escapa, não sou esperto não sou genial nem tenho a língua afiada sou apenas um desgraçado preguiçoso que de vez em quando inventa de ter uns ataques de teimosia, principalmente quando casos que nem esses me emputeciam terrivelmente

Terminei de rasgar a artéria carótida daquele segurança com a minha faca velha, daí você tira a força que eu tenho que fazer e eu sempre me pergunto porque eu não compro uma faca nova, seria crueldade minha ou apenas avareza, uma vez que, no final das contas, é uma bela faca, cabo de prata e detalhes de ouro

Agora só uma porta que me separava do restaurante chique no final de semana, das garrafas de Jackie Daniels, de uma mão feminina cheia de compridas unhas vermelhas me tocando uma punheta por debaixo da mesa. Uma porta e eu seria um gringo. Espero que eu não precise encarar mais nenhum filho da mãe, minhas balas acabaram e ainda que com uma faca eu ganhe em discrição, encarar gorilas com uma peça de uma loja de antiguidades com certeza seria uma idéia estúpida

Portanto, me ajoelhei e, como nos áreuos tempos púberes em que olhava a empregada tomando banho, olhei pela fechadura e ri comigo mesmo, antes de prestar atenção e ver a tal garota desaparecida de cabelos descoloridos e platinados, com implantes de silicone em todos os lugares possíveis para se colocar, consegui lembrar dos traços faciais que ainda restavam porque olhei uma cacetada de fotos dela por longas horas seguidas, e com certeza ela não conseguiria mudar tanto na faca se não estivesse foragida, afinal, esses processos de recofinguração total não são brincadeira, não é mesmo, ela mal conseguiria entrar numa dessas clínicas pedindo mundos e fundos sem tornar-se assunto de colunas sociais por no mínimo uma semana

Agora ela estava com roupa de puta, isso sim, e dei risada por minha amiga estranha no ninho, com certeza devem ter dado cocaína o suficiente pra puta cheirar e ter um blecaute nervoso e no dia seguinte acordar achando que não é uma filha de uma longa linhagem de donos do comércio e consequentemente do mundo, mas sim uma das melhores companheiras que alguém poderia querer, me levantei e fiz força na porta, pude notar certa tensão quando ela me viu, pudera, consegui novamente emporcalhar meu terno de trabalho - um dos três unicos, todos iguais - de sangue, miolos e vá saber mais o quê, quem manda ter boa pontaria e atirar de perto

Claro que ela não teve muito tempo de correr, correu apenas até eu acertar um pano umedecido de clorofórmio no rosto dela e pressionar longamente até ela cair desfalecida no chão, meus métodos são sujos, pensei acendendo um cigarro e colocando aquele corpinho leve, pálido e de grandes tetas de gelatina industrial sobre o meu ombro, enquanto andava em direção ao carro

- Porra - Disse uma voz feminina vinda do escuro da minha casa - não consegue ser mais discreto em ação não?
- Não - disse, acendendo luz e vendo minha secretária em roupas de baixo mínimas fumando um baseado cômico de tão grande tendo outros apagados no cinzeiro - Tenho cara de Sherlock Holmes? - Pousei a princesinha burguesa na cama, não tão delicadamente que me faça um homem cortês e não alguém insone, de ressaca e puto da vida - Vai, leva ela pro quarto de hóspedes, e tranca a porta
- Ela pode fugir pela janela...
- Claro, do nono andar, quantos gibis você está lendo ultimamente?

Nunca ria das piadas dela, acho que por isso que ela insistia em me derrotar na cama, bem, pensei, grande parte da missão concluída, só falta reintroduzir a piranhazinha na sociedade e sair disso tudo com o couro salvo, mas, pensei com muita propriedade profética, nunca é fácil desse jeito, foi o que pensei, antes de dar um trago naquele baseado e dormir, devo estar ficando fraco pra caralho

(e continua)

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